
Outro dia perdi-me. Cansado de perder os passos por Lisboa e de me distrair pelas terras de Portugal… e sem tempo nem dinheiro para ir para as Maldivas ou para as Seychelles, ou mesmo sem pachorra para apanhar um avião duma qualquer companhia de baixo custo ou de luxo extraordinário para a Europa ou Nova Iorque… descobri um modo de viajar muito económico e prático.
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Depois do aborrecimento do dia-a-dia, não há como chegar a casa e ter um belo jantar a começar a aromatizar o ar. As janelas abertas sobre o Tejo e convidam a escolher um vinho depois de indagar o que se vai manjar. Desta vez é borrego em crosta mediterrânica. Está decidido que vai um Quinta do Infantado 2004, um Douro precisado de bom tempo de respiração.
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Que tal pareceu o vinho? Muito equilibrado. Nele estava fruta vermelha madura e algumas notas de madeira. Notava-se ainda frescura e encanto. Um vinho concentrado e, ao mesmo tempo, leve, com bom final.
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Mas com isto tudo ainda nem contei como encontrei a forma ideal de viajar para os dias cansados. Nesse dia, instalei-me na chaise-longue na varanda em frente ao Tejo com uma mantinha nas pernas e sobre elas o computador portátil, Ao lado ficou uma mesinha ao lado onde pousei o bendito do Quinta do Infantado 2004 e mais o copo.
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Accionei a imaginação e o Goggle Earth e fui visitar Paris, uma das cidades ideais para saborear um vinho.
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Nas primeiras vistas, é um bocadinho complicada a orientação na cidade, mas depois de se localizar a Torre Eifel tudo se torna mais simples; as ruas começam a fazer sentido, as lembranças vêm ao de cima e o vinho faz algum efeito. Visto de cima é muito mais rápido chegar do monumento férreo até ao Arco do Triunfo do que a pé. Porém, a avenida Foch perde encanto e os Campos Elísios em versão digital não têm qualquer graça.
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Na verdade não me perdi em Paris. Perdi-me foi de amores pela vista do Tejo, pelo vinho e palas memórias da cidade-luz.
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No dia da última manhã fria
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As manhãs de princípio de Junho são as primeiras que não têm frieza. Não sou friorento, mas complico com a temperatura das manhãs. Esta implicância de ter a ver, provavelmente, com o facto de não gostar de me levantar cedo. No entanto, as manhãs de princípios de Junho são diferentes. Ainda não são absoluto calor e já não têm frio para aborrecer os mortais.
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No dia da última manhã fria deste ano acabei por ter uma surpresa agradável. Não quero dizer com isto que todas as manhãs frias me façam os dias correr mal. Não. Não é isso. O que quero dizer é que foi a última manhã fria da Primavera e nessa noite bebi um vinho que me deu um prazer valente. Foi uma coincidência marcante. Ou talvez não tivesse sido coincidência de todo.
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Foi um Quinta de Pancas Reserva Especial 2003: vinho escuro e vaidoso nos aromas, com notas de fruta, vegetais e minério. Na boca notavam-se a madeira e a fruta.
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Além do frio que se vai em começos de Junho, chega por essa altura uma nova claridade ao céu pela manhã. A luz perdura, depois, até mais tarde e há um odor que só Junho pode ter. Junho é um mês prodigioso.
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De volta à juventude
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A juventude é um tempo de beleza. Por mim tinha sempre 16 anos e não me preocupava com nada. Se pudesse parava o tempo e ficava para sempre no Verão e na praia. Por mim tudo era bicicletas, ondas, livros e artes plásticas. Havia ainda tempo para amigos, namoradas e risotas. Tudo o mais era desnecessário.
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O problema é que aos 16 anos não se sabe nem se conhece muita coisa, nem se pode ainda apreciar coisa que só o tempo permite. O vinho é uma dessas coisas. Arrisco a dizer que ninguém nessa idade o aprecia. Os néctares precisam de sabedoria e experiência. Além do mais quem não bebeu chá em pequenino não pode, na idade adulta, dissertar sobre o vinho. E aos 16 anos é ainda tempo de se tomar muito chá.
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Porém vinho e juventude não são incompatíveis. Há vinhos que são para se beberem novos, e é em novos que têm o seu encanto. Assim é o Paço do Conde 2004, um Regional Alentejano de fruta gulosa e fácil de agradar.
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Ai se eu pudesse ter outra vez 16 anos!... O que eu não faria!... Ter novamente essa idade e saber o que sei hoje… isso é que era!
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