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Pintei o quadro o melhor que sei. Depois sentei-me a pensar no que poderia ter sido se não fosse pintor – pintor por vocação, mas não por opção, porque a vida encarregou-se de me dar outra vida que não essa. Antes de aí chegar deambulei pelas galerias dos museus que conheço. Descobri que gosto mais dos pré-rafaelitas do que pensava, quase tanto quanto de Rembrandt ou Rubens. Pensei mais e saciei os minutos a brindar a obra de José Pedro Croft. Até conclui que afinal, bem pensadas as coisas, aprecio os quadros de Pedro Calapez... há coisas que só o tempo e a experiência permitem apreciar!...
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Matutava, alheio ao ruído do bairro e da proximidade do rio, quando fiz a pergunta duma vida: o que seria eu se não fosse pintor? Fez-se silêncio dentro da minha cabeça e no coração houve uma névoa de angústia. Fiz a segunda pergunta duma vida: o que tenho eu de fazer para ser pintor?
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As uvas conhecem o pintor por alturas de meados de Agosto. Não se pode dizer ao certo quando chega o pintor, mas lembro-me sempre que era Agosto quando presenciei o tingir das uvas tintas. Também nisso pensei nessa tarde de descobertas e questões íntimas de vital importância. Descansei o viver nos prazeres da natureza e no impressionismo da vida.
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No passear sem rumo perguntei-me se no Douro o pintor chega no mesmo tempo que no Alentejo. Continuo sem saber, mas sei que na bela Quinta de Erva Moira faz calor de Inferno e as vindimas começam no oitavo mês do ano. Por ali, o pintor chega mais cedo.
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Foi essa quinta um dos berços do vinho que bebi nessa tarde. Um berço, porque teve outro, a Quinta dos Bons Ares, vinte quilómetros mais acima, mais próxima da terra de gentes.
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Nesse fim de tarde jantei na varanda um rosbife e deliciei-me com o Duas Quintas Reserva 2003, que é vinho de vermelho bem forte. É macio e aveludado, com muita classe.
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Abraço do Norte e do Sul
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Portugal não é um país grande, mas é comprido. De cima a baixo, na faixa não muito larga do seu território, cabem várias gentes, com suas canções, comeres e beberes. Bem se sabe que hoje as distâncias minguaram nas horas e a vida moderna esbate as diferenças.
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E então? Não é por isso que Portugal se torna menos largo ou menos comprido nos seus bairrismos e profundidades.
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No corpo do país dão-se abraços. Os gaspachos (porque há vários) do Alentejo e Algarve sublimam-se quando acompanhados por Vinho Verde. Para acompanhar o Vinhas Altas 2006 fica uma receita: dois tomates, uma cebola, um dente d’alho, meio pepino, meio pimento, orégãos a gosto, um fio de azeite de Moura e um forte salpico de vinagre... e, claro, uma pitada de sal. Os vegetais são migados – não passados, que isso é uma modernice espanholada – em bocados pequeninos. Depois juntam-se os temperos e dois de água fresca. Está feito!
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Quanto ao vinho: é frutado e cítrico, tal como a sua cor. Nele há ainda outros frutos frescos, dados pela ligação das castas arinto, loureiro e trajadura. Por ser levemente frisante, a frescura é maior. Já que este Verão não quer vir até nós, que vamos nós até ele.
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Verde, que te quero Minho
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No Entre-Douro-e-Minho não se faz apenas Vinho Verde. Ah, pois não! Porém, por ali tudo é verde: até o caldo é verde. Só o chão é quase sempre, teimosamente, de granito. Por mim, tudo bem, não me impressiona a cor dos rochedos.
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O que pinta o contentamento são os salpicos de eiras, as latadas, o casario espalhado por milhões de aldeolas e o falar das pessoas. Há ainda o vinho. Há sempre o vinho. Esqueçam-se os rojões, porque, apesar do Verão andar fugidio, esta não é época para comezainas tão pesadas e quentes.
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O que importa agora são pratos de peixe e marisco ou, então, de carnes brancas e magras. Os verdes, como o Minho, são frescos como os rios daquela província e recomendáveis como as paisagens do Noroeste.
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Mas comecei por dizer que não há só Vinho Verde. Há também os regionais Minho. Um deles é o Vinhas Altas Reserva 2006. Este estagiou em barricas de carvalho allier, o que lhe molda o gosto e a frescura. É frutado, com maçã e pomagem tropical.
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Embora diferente do típico, vai bem com as comidas recomendáveis para o estio. Depois disto tudo há os mergulhos na praia e as promessas de repouso no final dum dia de Sol.
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