Lembro-me da noite passada, foi uma noite transparente. Choveu calmamente sem parar, como quem chorar por missão. O ruído da rua abafou-se sob a água e, pela manhã, não houve orvalhada nem os pássaros ousaram cantar. Só agora, que a luz ousa furar a almofada de nuvens, se podem escutar os cantos.
Quanto à noite passada... estiveste triste, a dormir. Descansaste dentro da tua camisa e sonhaste com vida mansa, quase quieta, porque também se deseja o que se tem. O copo de água, meio cheio, ficou à espera de ser todo bebido e no frigorífico o leite arrefeceu em espera de se aquecer.
Não houve uma aurora bureal por manifesta deslocação meridional da posição, mas poderia ter acontecido. Por cá, aconteceu quase tudo na noite passada. Foi uma noite transparente, de chuva mansa sem parar.
1 comentário:
Gosto imenso da serenidade do texto "porque também se deseja o que se tem", penso que é fundamental.
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