digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, abril 26, 2007

Sem segredo

Já disse tudo o que tinha para dizer. Agora só digo palavras para dizer música e receber o eco das pedras e da madeira. É essa a sina dum solitário. Na verdade descubro palavras e letras que me disseste na palavras que escrevi no ar. Julgava capaz de guardar um segredo: afinal não sou um poço, mas um tubo oco e aberto nas extremidades. Por mim vê-se o céu, o mar e as florestas. Em mim não se guardam segredos.
Só eu sou um segredo. Porém, já disse tudo o que tinha a dizer. estarei revelado como um telhado ao meio-dia. Esperei ser em ti um mar e o desamor fez de mim uma poça ou pouco mais. Sou um charco de água onde se pode mergulhar, estou disponível: guardo alguma coisa, mas nada de importante que valha a pena esconder.
Não guardo segredos. Poderia querer guardá-los todos, mas as minhas mãos largas de dedos abertos e os meus braços franqueados deixam-nos escapar todos como os minutos num relógio. A minha boca não tem passador nem filtro, é uma abóbada celeste onde as palavras se erguem soltas e partem para onde tiverem de ir. Não guardo segredos. Não sei guardar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Fantástico este texto. Adorei...

João Barbosa disse...

tu és, tu és, tu és uma beleza... como cantariam os Orquestrada