Já disse tudo o que tinha para dizer. Agora só digo palavras para dizer música e receber o eco das pedras e da madeira. É essa a sina dum solitário. Na verdade descubro palavras e letras que me disseste na palavras que escrevi no ar. Julgava capaz de guardar um segredo: afinal não sou um poço, mas um tubo oco e aberto nas extremidades. Por mim vê-se o céu, o mar e as florestas. Em mim não se guardam segredos.
Só eu sou um segredo. Porém, já disse tudo o que tinha a dizer. estarei revelado como um telhado ao meio-dia. Esperei ser em ti um mar e o desamor fez de mim uma poça ou pouco mais. Sou um charco de água onde se pode mergulhar, estou disponível: guardo alguma coisa, mas nada de importante que valha a pena esconder.
Não guardo segredos. Poderia querer guardá-los todos, mas as minhas mãos largas de dedos abertos e os meus braços franqueados deixam-nos escapar todos como os minutos num relógio. A minha boca não tem passador nem filtro, é uma abóbada celeste onde as palavras se erguem soltas e partem para onde tiverem de ir. Não guardo segredos. Não sei guardar.
2 comentários:
Fantástico este texto. Adorei...
tu és, tu és, tu és uma beleza... como cantariam os Orquestrada
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