digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O tédio

Não tenho vontade nem coragem para ir nem para ficar. A normalidade é um tédio e não se pode viver fora do concreto.
Um dia vou a Londres. Um dia mostro fotografias da minha vizinha a passear o pato. Um dia volto a sair à em roupão. Um dia deixo de tomar banho. Um dia dou um tiro na cabeça e continuo vivo. Um dia compro um quadro muito caro. Um dia mudo-me para uma quinta com vinha.
Ou então vou a Londres. Não cumprimento a vizinha porque sou puritano. Só saio de casa bem trajado. Andarei sempre barbeado e lavado. Nunca darei um tiro na cabeça e prometo morrer um dia. Nunca comprarei arte. Viverei sempre num apartamento burguês ou no palácio da família.
Entre uma coisa e outra há coisa nenhuma. Não tenho coragem para ir nem para ficar. Talvez pudesse vestir-me de careto e montar-me num camelo na Segunda Circular. Talvez pudesse criar arte e vendê-la muito cara ou a preços acessíveis e democráticos. Talvez pudesse vender o palácio da família e comprar uma quinta com vinha. Entre uma coisa e outra, coisa nenhuma. Coisa nenhuma. Falta coragem para ir e mais ainjda para depois voltar se quisesse. A normalidade é um tédio.

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