digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, fevereiro 11, 2007

A (in)conveniência

O menino não nascerá. Não é conveniente que venha. É bem certo que por ele se derramarão umas lágrimas e ficará um aperto, mas a vida irá prosseguir. Ah, a vida! A vida é tão complicada! A vida é tão complicada! Que trabalhos daria se viesse agora um menino!... Há tantas razõe para o menino não vir, todas tão válidas, todas tão sérias e ponderáveis. Não! O menino não vem. E pronto.
Claro que por ele se verterão algumas lágrimas e ficará um aperto. Muitas vezes à noite aquele ser, menino ou menina, irá visitar-me em sonhos. Virá de mansinho ou sobressaltado. Virá cobrar-me? Cobrar-me o quê? Não nasceu! Não era vida!
O que é a vida? O nascimento! Pois! Ou será a concepção? Ou serão as doze semanas de gestação? Ou serão as dez semanas? Ou será quando se quiser? Ou será quando Deus quiser? E se Deus não existir? Mas nós mandamos na vida?! Mas nós mandamos na morte?!
Claro que se verterão lágrimas por ele e ficará um aperto. Muitas vezes à noite haverão muitas dúvidas. Quando se pensava na tranquilidade, haverá sempre o momento daquela questão. Se não fosse vida não seria tão difícil nem tão permanente.
A vida continua. Tudo continua. Não é nada, tudo passa. Tudo podemos. Um dia será um tio que não será conveniente, porque está enfermo, não se mexe e só diz disparates. O pobre homem é quase um vegetal. Por que não fazer-lhe o mesmo?
Não se domina a vida, muito menos se compreende, mas já se quer dominar a morte. Porque em tudo temos de mexer. O ser que se julga mais inteligente não percebe a dimensão da sua ignorância. O menino que não vem existe ainda antes de nascer e vive antes da concepção. Em sonhos visitará pai e mãe talvez desejando-lhes bem. Vai continuar a viver sem um corpo. Um dia irão conversar.

Nota: Um referendo para ser vinculativo necessita que 50% dos votantes tenha exercido o seu dever de voto. Os socialistas, com a maioria absoluta no Parlamento, já fizeram saber que o resultado de hoje vai ter consequências políticas. Isto é um escândalo democrático. Se assim é, para que está lá a norma dos 50%?

6 comentários:

Anónimo disse...

A partir de agora, os abortos anteriormente feitos às escondidas serão feitos às claras. Será possível ter uma noção real das dimensões do problema a nível nacional. Será mais fácil apertar o cerco à desinformação sobre métodos contraceptivos. Será possível dar aconselhamento a quem decide abortar e facilitar-lhe motivos para levar a gravidez avante. Sempre se fizeram abortos, mas na sombra. Longe da vista, longe do coração? Agora sim, será possível tentar travar esta realidade.

João Barbosa disse...

Este texto não é contra o resultado do referendo. Este texto é contra o aborto. O resultado do referendo é o que é e cada um terá de prestar contas, um dia, à sua consciência. Não sou eu quem as irá julgar. O texto é contra o aborto, ponto.
A nota final é contra uma batota eleitoral. A maioria socialista, mais o Bloco de Esquerda poderiam ter feito a legislação que entendiam sobre esta matéria sem consultar os portugueses. Aliás, era essa a opinião do PCP. No entanto, fizeram uma mascarada. Ouviram-nos e pelas regras não foi válido. Agora, pelas costas vão legislar como se fosse válido.
Portanto, temos aqui duas coisas: um texto contra o aborto e uma nota de remate contra uma batota política.
Saudações

Anónimo disse...

Para mim, o que é grave e digno de reflexão é que tão pouco tempo depois do 25 de Abril um referendo nacional possa não ser vinculativo graças a uma abstenção estrondosa.
Pelo menos é coerente com a corrida de Salazar ao título de maior personalidade nacional de sempre. Aplaude-se um ditador, finca-se o pé ao direito de voto.
Tenha uma boa semana.

João Barbosa disse...

É de facto lamentável o nível da abstenção no referendo e também o que se tem verificado nas eleições.
E só alguém sem memória, sem decência e sem noção histórica pode considerar Salazar como grande português.
Tenha uma boa semana também

Anónimo disse...

Realmente dá que pensar: "Cada País tem o povo que merece ou cada povo tem o País que merece?Devemos ser um povo bem pequenino, culpamos Salazar por tudo e por nada e durante anos, até mesmo depois da queda da ditadura. Porque não havia liberdade em Portugal...outros ditadores houve na Europa e o povo já ultrapassou esse ar de "fado do coitadinho", no minimo quando tem a liberdade, o direito e o dever de ser chamados a dar a sua opinião, simplesmente votam! Cá querem que decidam por eles, para depois poderem criticar. Até dá vontade de dizer que Salazar, foi uma grande personalidade, não acham?

João Barbosa disse...

Não! Gi, Salazar não foi uma grande personagem. Não, não foi.