digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Teatro astrológico

Encontrei entre os papéis três horóscopos amarelecidos. São os retratos de duas vidas e o seu cruzamento. Estão ainda actuais. Será que o amor não morre? Têm letras grávidas. Há esperanças derrotadas.
Descobri astros espalhados no papel, trastes desajustados, adereços de teatro. Já se disse que tal é a vida. Não sei quando entrar nem por onde. Hoje acordei:
Manhã cínica de azul intermitente. Preguiça sem capricho. Dor de memória. Terei uma tarde indecisa e uma noite ansiosa.
Todo este peso... toda esta sofreguidão em viver e em sair da vida. Um pesadelo em que não se sabe se acordado ou dormente, se vivo ou se morto.
Está tudo escrito nos três horóscopos amarelecidos. Estava tudo previsto há muito. Sou o bobo da peça da vida.
O odor do palco vicia. O da pele, sacia. Vou ficando por aqui à espera dum final qualquer, duma revelação, agora que um ano acabou e outro está a ser encetado. Os dias não deram por nada. Está tudo escrito nos três horóscopos. A peça da vida.

4 comentários:

Folha de alface disse...

este blog foi uma das boas revelações de 2006. espero q continues a encantar-nos c a tua escrita tb em 2007.
bj

Anónimo disse...

to be or not to be...

Anónimo disse...

Não será mais: A P*** DA VIDA?

Anónimo disse...

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos

E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão Ferreira