digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, novembro 14, 2006

A gaiola

Estou preso do lado de fora da gaiola. Dentro está o meu amor. Não sei se a jaula o protege a ele ou se me defende a mim. Não se procure o meu amor dentro da campânula aberta, pois não se encontrará. O meu amor é invisível. Só eu sei dele e ele de mim. Escondemo-nos de todos e até de nós. Somos esquivos. E não sei o que fazer com ele... tampouco o posso soltar, porque o poderia devorar se passasse por mim.
O amor não é livre. O amor prende. O amor liberta. O amor contradiz. O amor desmente.
Não sei da rapariga dos meus encantos. Não pergunto por ela, porque a quero livre. Não a solto, porque a quero viva. Estará ela tão presa quanto eu? Possivelmente está com os olhos fincados no seu amor, guardado numa gaiola, donde não o pode soltar. Possivelmente estou guardado numa gaiola donde não posso sair para que não me devorem.
Rondo a jaula como um gato vigiaria se lá dentro estivesse um pássaro. Desejo e quero a carne e o sangue, a satisfação precária do sexo. Quero o ar da respiração, o acordar e o último suspiro. Temo o amor. Não sei viver com um bicho tão frágil nas mãos. Tudo nas minhas mãos se parte. Tudo de mim se aparte. Aparto-me da felicidade e fico. Deixo-me preso do lado de fora da gaiola.

11 comentários:

moonlover disse...

Fantastico! como sempre;)
O Amor devia de ser assim, sem o sentido de posse, deixando respirar.
O acordar :D o último súspiro:)
Se assim fosse, reciproco, não sofriamos tanto.
bjs

Anónimo disse...

Deste-me luz...não te chateies. A luz estava cá dentro eu sei! Mas tu apressaste o caminho que eu faria de forma morosa e quase sem vontade. Perecbi e entendi. Acho que vou caminhar na fase oposta, na fase da abnegação. Já não queria gaiolas nem gatos a rondarem a minha...agora não quero mesmo nenhum destes elementos. Posso viver sem amor!? Posso! SEm amor de jaulas e de rondas e de desejos assim estipulados. Prefiro a total ausência ou o total disfarce...
Obrigada pelo bom text, pela boa leitura e agradeço-me a mim pela minha iluminação pós reflexão.

Anónimo disse...

Fantástico texto. Envolvente ... li umas quantas vezes , confesso.
Beijito.

Folha de alface disse...

windo,windo, windo!
lindíssimo!
bravo!

Anónimo disse...

Que bonito texto João, é assim que derretes a tua legião de fãns...;);)Amigo, no caso da edição de um livro, pelo menos à 2ª. edição chegas de certeza absoluta :)

as velas ardem ate ao fim disse...

Dos melhores textos que já li por aqui no "mundo"dos bloggues.Sofrido mas lindo.

Deixaste me um nó na garganta.

Abraço apertadinho

João Barbosa disse...

Às meninas que aqui deixaram umas palavras: Muito obrigado... que mais posso dizer, deixaram-me sem mais palavras. Beijinhos

Folha de alface disse...

vaidoso ,)

Anónimo disse...

"O amor não é livre. O amor prende. O amor liberta. O amor contradiz. O amor desmente."
Lindo,profundo e verdadeiro....Parabéns!!!!
Gisele - Brasil

Anónimo disse...

Bonito e envolvente :)

Folha de alface disse...

não se pode fazer um elogio pá!