digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, novembro 19, 2006

Dorme serenemente no mar

Enquanto dormes não sou capaz de amar outra. Quando despertas só tens olhos para mim. Mas estás invisível e vês-me quando não estou. A luz do dia traz-me intranquilidade e tremem-me as mãos por tremerem as tuas. Não é por os lábios vacilarem que não se dão beijos, mas porque a gravidade é desafiada pelo contra-peso da cabeça.
As nossas cabeças têm mares dentro que se alvoroçam e serenam. Há momentos, por vezes longos, tão sossegados onde um vale verde parece substituir-se ao pequeno oceano pessoal. Ilusão passageira. É toda essa água que nos une e afasta.
O meu corpo deseja, enquanto tu dormes serenamente no mar. Fazes-te à vida já estou eu chão e sem brisa ou corrente. Não é por vacilarem os lábios que não se dão beijos, mas porque as nossas cabeças têm mares dentro, que inundam e ensopam os sentimentos e os desejos.
O meu corpo quer navegar-te como sempre fez. Quero que o teu no meu mergulhe e colha vida. Não sei se basta esperar e quanto basta o tempo para que uma Lua cheia nova acerte os nossos mares, para as nossas cabeças poderem pender para o sítio apropriado ao beijar. Até esse momento incerto, dorme serenamente no teu mar.

5 comentários:

Anónimo disse...

Lembras-te que eu já disse umas quantas vezes "este sim é o texto mais lindo que já escreveste aqui no blogue?" Pois esquece as outras...até ao próximo momento de perfeição literária este é o teu texto mais lindo...

Anónimo disse...

Tive que voltar para salientar: "basta o tempo para que uma Lua cheia nova acerte os nossos mares, para as nossas cabeças poderem pender para o sítio apropriado ao beijar"...lindo o sítio apropriado ao beijar que só se descobre depois de muitos beijos trocados pelos dois lados...

Folha de alface disse...

escreves tão bem :)

Lia disse...

Li três vezes. Este texto é bem suave, parece que tem ondas que navegam e no final dele parece que ele não acaba, ele ressoa no silêncio e na última frase ele é todo respeito. Lindo!

João Barbosa disse...

obrigado pelas vossas palavras :-)