Enquanto dormes não sou capaz de amar outra. Quando despertas só tens olhos para mim. Mas estás invisível e vês-me quando não estou. A luz do dia traz-me intranquilidade e tremem-me as mãos por tremerem as tuas. Não é por os lábios vacilarem que não se dão beijos, mas porque a gravidade é desafiada pelo contra-peso da cabeça.
As nossas cabeças têm mares dentro que se alvoroçam e serenam. Há momentos, por vezes longos, tão sossegados onde um vale verde parece substituir-se ao pequeno oceano pessoal. Ilusão passageira. É toda essa água que nos une e afasta.
O meu corpo deseja, enquanto tu dormes serenamente no mar. Fazes-te à vida já estou eu chão e sem brisa ou corrente. Não é por vacilarem os lábios que não se dão beijos, mas porque as nossas cabeças têm mares dentro, que inundam e ensopam os sentimentos e os desejos.
O meu corpo quer navegar-te como sempre fez. Quero que o teu no meu mergulhe e colha vida. Não sei se basta esperar e quanto basta o tempo para que uma Lua cheia nova acerte os nossos mares, para as nossas cabeças poderem pender para o sítio apropriado ao beijar. Até esse momento incerto, dorme serenamente no teu mar.
5 comentários:
Lembras-te que eu já disse umas quantas vezes "este sim é o texto mais lindo que já escreveste aqui no blogue?" Pois esquece as outras...até ao próximo momento de perfeição literária este é o teu texto mais lindo...
Tive que voltar para salientar: "basta o tempo para que uma Lua cheia nova acerte os nossos mares, para as nossas cabeças poderem pender para o sítio apropriado ao beijar"...lindo o sítio apropriado ao beijar que só se descobre depois de muitos beijos trocados pelos dois lados...
escreves tão bem :)
Li três vezes. Este texto é bem suave, parece que tem ondas que navegam e no final dele parece que ele não acaba, ele ressoa no silêncio e na última frase ele é todo respeito. Lindo!
obrigado pelas vossas palavras :-)
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