
A casa das palavras tem estado vazia. Entro e sento-me. Fico a olhar as palavras antigas e volto a provar algumas para me lembrar do que me impressionaram quando as li pela primeira vez. Sinto-me só e no pó acumulado nas prateleiras e no chão vejo as marcas da passagem doutros leitores. Tudo está quieto há algum tempo, mas arrumado. Este tem sido um ponto de encontro para gente desencontrada e agora é um abrigo com janelas para a saudade. Continuarei a vir ver se há novas frases ou se o espaço está na mesma. Sinto-me bem nesta casa e sei que este é um lugar de estar. Vou estando por perto. Bem dentro há um jardim e no meio um poço com uma fonte de palavras. Podem não jorrar hoje, mas tarde ou cedo vão matar-me a sede. Dentro há sempre calor. Reconforto-me até nos desencontros. Deixo um recado escrito à curadora da casa para que volte e festeje, que faça correr o rio, porque a água não se quer presa e a beleza não se aprisiona no espelho. Enquanto ela não o lê, deixo-me ficar, encosto-me e
descanso-me na ternura toda.
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