digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, outubro 24, 2006

Por que fumo

Acendi um charuto. Estava já depois da batalha nobre da refeição, no repouso que se exige quando a luta é justa, leal e denodada. Passara-se o tempo à mesa combatendo uma carne saborosa e batatas que, com nenhuma dúvida vieram da terra. O campo da batalha foi o linho branco, duma alvura exemplar e o sangue derramado vinho tinto. No final da peleja bebeu-se à memória dos caídos com o mais nobre dos vinhos: Porto Vintage. Para que as palavras se elevassem nos discursos acenderam-se charutos, como defumadores de igreja, porque o seu fumo casa eleva os dizeres às almas dos idos e o seu sabor casa com o dos retintos de feitoria. A mim vieram, então, memórias agradáveis e afirmações sábias.
Um charuto não é um cigarro nem um Vintage é um vinho qualquer. Fiquei a desejar aquele momento. Fico muitas vezes a lembrá-lo, no prazer e na meditação. Repito-o quando posso, quando me deixam, quando vale a pena. Só quando a batalha justifica. Não há refeição digna sem uma grande amizade ao lado, e até a mais simples pode ser um monumento. Em tudo têm de estar afectos. Só na grandeza acendo um charuto.

3 comentários:

moonlover disse...

Concordo com a refeição acompanhada de uma amizade, tambem cultivo esse hábito, agora mais que nunca! Regada com muitos afectos ;)

Folha de alface disse...

aqui deixo o meu sorriso de amizade neste dia tão cinzento :)

João Barbosa disse...

bom dias para as duas lindezas e obrigado pela visita :-)