digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, outubro 02, 2006

O rapaz das cartas

Não sei onde deixei a paciência. Esqueci-me dela algures. Sei que já não sou um rapazinho e que mudei, mais do que só a voz.
Gosto de baralhos e brinco com as cartas todas ou só com as figuras. Brinco com o destino. Atribuo significados a cada uma, às suas posições, sequências e triangulações. Sou um mago. Espreito o futuro às claras ou na luz escura das velas.
Mudei e guardo os baralhos numa gaveta. Brico às paciências. Brinco ao que já não tenho, ao que desconheço, ao que não me lembro, às minhas fúrias, à minha solidão, à minha paixão... Por vezes choro por me encontrar desencontrado.
Guardo as emoções e não jogo. Jogo-as para trás das costas. Esqueço-as. Escrevo-as em cadernos fechados. Solto-as em lençóis de camas vazias. Abraço-as em almofadas com recordações. Molho-as com choros. Brinco com cartas.

1 comentário:

Folha de alface disse...

a deitar assim as cartas ainda fazes concorrência à tia maya...