digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Fui

Fui-me embora enquanto dormias, mas não te deixei sem uma ternura. Brinquei contigo como sempre fiz. Quase causei um despertar ao não conter uma lágrima que me saltou para o teu colo: segurei-a com os dedos, untei-os e espalhei o líquido atrás das tuas orelhas como se fosse um perfume, para teres o meu cheiro para sempre, para te lembrares de mim. Fiz-te cócegas levezinhas e vi-te sorrir, é essa a última imagem que guardo de ti. Foi quase uma tentação acordar-te, mas se acontecesse haveria uma maior em beijar-te e ter-te e abraçar-te e diluir-me e se esta fosse já talvez não fosse. Contive-me. Vi-te sorrir e fui. Fiquei apertado, abraçado ao teu coração, e tu dormindo sorridente em mim. Fui enquanto dormias. Quando despertares, serei uma leve recordação, uma leve dor na memória e um aconchego. Se me quiseres o suficiente verás a sombra da minha alma impressa perto do lugar onde parti. Tudo em nós se resume ao instante em que dormias e te fiz cócegas leves para levantares o sorriso ao deixar-te, tudo o resto passou a ser uma mentira e deixou de valer a pena recordar.

4 comentários:

Anónimo disse...

LINDISSIMO!

Ana Fonseca disse...

Que mentira deliciosa! Eu não me esqueceria dela assim... Lindo, como só tu sabes fazer!

Folha de alface disse...

oh pá q palavras mais doces!
(suspiros)

Anónimo disse...

Recordações doces são tão boas! A ternura fica impressa, sei que sim :)