digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Saudades

Tenho saudades do meu menino ainda antes do ver. A morte não é um pássaro negro nem o nascimento um anjo de asas brancas, mas sinto as bicadas dum corvo e não os beijos dum querubim.
Lembro-me duma fonte, um geiser, e de rugidos murmurados. Lembro-me da festa da vida. Por mais que se pareça consigo, a água nunca é a mesma nem se imita como um espelho, cai e flui, esvai-se num rio, faz-se vida, espalha alegria e frescura, solta brilhos e mata a sede. Quando represada, apenas espera para sair. A vida. A água. Ninguém mata a água.
Tenho saudades do meu menino ainda antes do ver. Ainda antes do lavar com a água mais limpa. No mundo em que está, sorri e chora na espera duma nuvem que o traga. Fico-me com as bicadas dos corvos e ele com os abraços dos anjos.

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