digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, setembro 23, 2006

O salto

Ainda dou o salto, se é que não pulei já. A morte é só um passo. Depois é que vem a vertigem e o peso.
Saltei uma vez. É um horror. Tudo treme. Até à concentração. Até ao silêncio. Até ao passo. Até ao salto. Vem tudo à mente. O passado todo e toda a gente.
Saltei uma vez. Fui-me de dor por duas criaturas canalhas. No entanto, não vomitei todo o veneno que me deram traiçoeiramente. Saltei da realidade abaixo crendo num mundo onde estivessem os dois amigos à minha espera, acordei na terra onde duas sinistras velhacas congeminavam mentiras, urdiam sinistras maquinações e doentias palavras. Saltei deles para fora. Mandaram-me deles abaixo. Ainda vomito o veneno que me deram dissimuladamente a beber.
Ainda dou o salto e já vou cansado de saltar e prometer novas quedas para vidas novas. Saltei uma vez. Na verdade saltei duas. Se quiser contar a verdade, foram três. Ainda dou o salto e já vou cansado de saltar e prometer novas quedas para vidas novas. Só não se morre. Não se morre, porque a morte não existe.

1 comentário:

perdida em Faro disse...

Não se morre...se não quisermos ou tivermos a sorte de ter tocado algum espírito daqueles bem altos e que depois da nossa ida física se encarregam de nos transportar consigo espiritualmente...Gostei muito do texto João. Sou muito eu aqui...