digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, julho 12, 2006

Nasser

Desde criança que Nasser merca em tapetes. Nasceu para ser príncipe, mas a vida fez dele mercador de tapetes. Não se pense que é um sujeito modesto, da sua boca nunca se ouvirá para um cliente uma reverência, uma vassalagem ou, mesmo, um tratamento por senhor. Nasser não chama senhor a ninguém.
O irmão mais velho, Yassouf, sempre acusou Nasser de ser agarrado ao dinheiro. Pudera, um tapete dá muito trabalho a vender. Não é preciso talento para vender um tapete, mas paciência. Calha bem, porque Nasser não tem nenhum talento, mas tem muita paciência. Nasser só se impacienta quando Yassouf lhe chama agarrado ao dinheiro e de judeu, o que para um muçulmano pode ser ofensivo; naquele caso pretende ser.
Yassouf e Nasser têm feições muito diferentes. Dir-se-ia que não têm o mesmo pai e a mesma mãe. Contudo, para confirmar o parentesco surgiu o irmão mais novo, Abdulah, cujo rosto é meio um e meio o outro. A Natureza tem destas coisas.
Nasser arrelia-se com a fama de avaro. Nem tem grande culpa, mas deixou que se lhe assentasse o bruá e agora já não se desapega. Para falar com verdade, Nasser é um amigo que dá tudo o que tem e pode. Tal como Yassouf. Se Nasser não dá mais é porque as suas precisões são muitas. No entanto, no que respeita a impalpável oferece-se como ninguém: é generoso e franco, aberto e sereno. Nasser é um amigalhão!

Nota: Este texto é dedicado a Nasser, que não se chama Nasser nem nunca vendeu um tapete.

3 comentários:

Anónimo disse...

Amigalhões teus estou a ver alguns. No que a essa questão diz respeito, tu também és um Nasser para mim, nesse caso :)

Folha de alface disse...

e mais um post à lá johnny :)

João Barbosa disse...

:-)