Com os pés enterrados na areia ou com as plantas e os dedos a sentirem a sílica sobre a madeira e as partes restantes do corpo salgadas, não há muitos prazeres como os da carne de tunídeo. Garanto e tenho autoridade maior, por causa da minha intolerância ao peixe.
O atum, para o conseguir tragar, tem de vir em lata e nadando em azeite. As conservas serviam para a comida aguentar longos períodos antes de haver móveis de frio. Hoje, porque há frigorífricos, as conservas são guloseimas, prazeres e tradições, memórias. Por tudo isso só há razões para que o atum venha em azeite e não em óleo de qualquer outro vegetal, e que seja virgem extra, proveniente de azeitonas apanhadas no ponto ideal de maturação e transportadas rapidamente para lagares asseados. Se assim acontecer fica mais rico o peixe. As latas são bonitas, mas como reluziriam as postas se viessem acomodadas em vidro escuro e sempre protegido da luz e dos calores?! Mil cuidados.
O atum, para o conseguir tragar, tem de vir em lata e nadando em azeite. Não pode ser sangacho, porque esse agride-me as goelas com o sabor que tem o cheiro do peixe e revolta-se-me o estômago e reviram-se-me as entranhas e a agonia transforma-se em vómito. O atum, para o conseguir tragar, tem de vir em lata e nadando em azeite e tem de ser claro.
As postas desfazem-se, desfiam-se suavemente, e misturam-se com cebola picadinha e feijão-frade cozido. O azeite da conserva melhora os humores do farináceo e ao tocar o bolbo faz soltar um perfume comovente. Não há maior delícia para se provar com a areia nos pés e com o mar nos olhos. Para desafiar o gosto vai bem um vinho branco sem estágio em madeira, bem fresco e vivo. Aí não imagino muito mais do que um bom Vinho Verde, de preferência da casta alvarinho, nascido na sub-região de Monção.
Agora que sonhei já não preciso de mentir. Lembro-me tão bem da praia de Tavira, fico com saudades do azul da ria Formosa, bem perto de Faro, e lembro-me das tardes da Meia-Praia, em Lagos. Ai, Algarve!...
9 comentários:
Só mesmo quem não gosta de peixe é capaz de escrever coisas tão bonitas a respeito do Atum em lata...ehehehehehe!
Se ainda falasses de um belo bife de atum.
Come mas é um belo peixinho grelhado ou "au sal" acompanhado de um vinho branco fabuloso e depois diz-me que não gostas.
Gi, por que queres ver-me vomitar? não te darei tal prazer... basta estar alguém a comer peixe nas proximidades e já tenho de respirar pela boca...
Aqui não és mentiroso, é mesmo verdade o que dizes. Não sabia era que comias atum?????
pois, como atum de lata e como bacalhau desde que seja de salmoura e não seja cozido. Depois há uns habitantes do mar que como: lulas, chocos, polvo e bivalves (excepção às ostras, que têm o sabor do odor do peixe).
Sim o resto já sei, o atum é que não sabia.
Como atum de lata, mas não morro de amores. aliás, só gosto em salada. de resto passo sempre sem ele.
Só para chatear o Barbosa: só quem nunca provou Ostras, pode dizer que as ostras têm sabor do odor do peixe...deve ser das melhores iguarias que existe. E têm sabor a MAR, ok?
Como aguentaste em Tavira ou no Algarve que durante o Verão (a não ser que estejas em Albufeira que só cheira a bronzeador e a perfume barato), só cheira a peixe a cada canto... aproveito para te perguntar... João: e o bacalhau? Nem esse manjar passa à tua intolerância?
As tempestades também passam por aqui mas de mansinho. Quase que pedem para entrar. Também quando não pedem, nós respeitamos muito...mas já está sol quando se ouvem nas notícias (que não vejo, só ouço)sobre as inundações no país.
Olá Tânia, conconcordo em absoluto com o que dizes sobre o cheiro a bronzeador em Albufeira, e acrescento Quarteira e Vilamerda (perdão, Vilamoura). Quanto ao bacalhau... O cheiro do bacalhau é cheiro do bacalhau. E ponto! O cheiro do peixe dá-me vómitos, quando me cheira a peixe, respiro pela boca...
6:48 AM
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