Às vezes sento-me à soleira do meu monte ao entardecer e ignoro o tempo e o dinheiro, que são as duas maiores chatices da vida. A morte faz parte da vida e a doença é um aborrecimento tolerável ou até compreensível.
Às vezes sento-me à soleira do meu monte ao entardecer e leio os meus amigos impublicados. É uma pena que não os publiquem, quase uma pena nacional o desperdício de inteligência e talento. Nesses momentos esqueço-me até do Sol que se põe. Interessa-me, quanto muito, uma pinga de água fresca que consigo duma enfusa de barro.
Às vezes entre a sombra e o Sol leio os amigos impublicados e revejo-me nas linhas escritas e nas inseguranças. Não é por serem amigos ou por ser entardecer, mas pelo português, pela inteligência e pelo fruto valerem o esforço das impressoras e dos olhos dos leitores.
Do meu monte ao entardecer sonho em revelá-los ao mundo, como se o Alentejo fosse Nova Iorque e a minha pinga de água fresca a força motriz que move a máquina giratória do eixo terrestre. Às vezes à soleira do meu monte sonho além de ler os meus amigos impublicados e só vejo o Sol a pôr-se.
Sem comentários:
Enviar um comentário