digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, maio 11, 2006

Não digas ou a Anunciação

Não te destapes, por favor. Não te destapes ou ainda constipas a intimidade que tão ciosamente guardas. Cuidado, protege-te, não digas quem és, não vá eu acenar-te. Não te reveles nem te dispas. Vem sem te anunciares, vem flutuando como um vento medroso. Chega-te aqui em segredo e diz-me ao ouvido algo que não saiba, mas não digas quem és, não vá eu gostar de ouvir.
Vá, brinca ao vento ligeiro a levantar a poeira e as folhas do chão. Não as deixes assentar. Elas são passado, mas não têm lugar a descansar.
Mas quanto a mim, confesso que preferia outra coisa. Se pudesse, anunciavas-te, ainda que baixinho, só a mim, e eu dizia-te o que pensava. Em vez de um sopro pequenino talvez pudesses ser um vento mais alto a agitar a folhagem das árvores.
Anuncia-te e entorna as pedras do xadrez e revela as cartas que tens na mão. Diz que jogo queres jogar e então talvez possamos brincar os dois. Podes ser um anjo e eu o diabo... Tu rato e eu o gato. Não é isso que queres? Por agora nem sei quem és... mas desconfio.

3 comentários:

Anónimo disse...

Imaginas quem sou!
Que bonito que é imaginar!
Projectas um esboço do que possivelmente sou! Mais sabes tu quem sou!
Sou um jogador de xadrez cujo tabuleiro foi derrubado pelo teu desassossegado vento!
Sou uma jogadora de poker sem cartas!
Sou um anjo que caiu aqui!
Sou o rato que de tanto fugir chegou!
Na realidade quem sou não importa mesmo!

João Barbosa disse...

gargalhada!

João Barbosa disse...

pois... não importa e importa. se não importasse eu não perguntava e tu não voltavas. claro que importa, mas não tem importância. andamos a brincar ao gato e ao rato. acho que queres ser descoberta, sem querer que te descubra. é um jogo. continuo a desconfiar da mesma pessoa. pode ser que me engane, pode ser que não. mas agora fizeste-me rir. ou seja, reforçaste as minhas suspeitas.