Reembrandt pôs janelas para dar luz aos negros, aos quartos negros. Nunca mais a vida voltou a ser como antes dentro desse mundo onde tudo se passa num espaço mais limitado do que o mundo, como um palco, à vista de todos, à vista de quem tem olhos e alma para ver.
E tu, minha menina, que tens asas, já voas? Já voas novamente? Tenho pena que tenham de te segurar para esvoaçares e te falte a coragem para te emancipares. Quando vais tu voar sozinha? O que importa se caires no chão? O chão é apenas chão. É madeira. É tão material como o ar. Quando perceberes que o ar é feito da mesma essência que a madeira vais suster-te nele e voar. Para que queres tu as asas se não voas? Larga a vida que levas, não precisas das mãos a segurarem-te. Olha, tens as janelas postas por Reembrandt. Delas podes ver o mundo e sair desse quadro. Vai, voa daí para fora. Há quem não o possa fazer por não ter asas e se limite a contemplar as vistas, mas tu nasceste com asas. Vai, vai voar. Não precisas das mãos dos outros para esvoaçar. Não é presa a alguém que vais ser livre. Sai desse quadro. Tens abertas as janelas de Reembrandt. Por elas entra a luz e podes sair para a liberdade.
1 comentário:
Que belas palavras. Posso roubá-las para mim?
Gostei bastante do infotocopiável.
Vou voltar.
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