digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, abril 26, 2006

Segredos

A porta do Paraíso parece-se com a porta do Inferno. Não sei distinguir uma da outra nem tampouco esta. Escondia-me nesta cave e brincava contigo às escondidas ou roubava garrafas para beber devagarinho contigo e mais companhias certas.
Gostava de não ter medo do escuro nem do pó nem das teias de aranha nem da idade das garrafas nem do vinho idoso nem da luz frouxa. Gostava de brincar no átrio onde estão as portas do Paraíso e do Inferno. Gostava de saber o que se esconde nas caves de Vinho do Porto, do Champanhe e do Tokay.
Praticar esgrima numa adega é uma façanha de herói. É a minha aventura de sonho. Quero brincar às escondidas contigo e ler-te contos infantis numa adega como se fôssemos duas crianças crentes em coelhos falantes. Gostava de não ter medo dos caminhos das escadas nem da luz amarela fraca.
O meu refúgio guarda garrafas antigas que nunca terei dinheiro para comprar. É lá onde brinco contigo e onde abasteço os jantares que sirvo aos amigos. Gostava de ter as chaves das caves do Vinho do Porto, do Champanhe e do Tokay... e já que se pode sonhar, que viessem também as do Madeira, do Bordéus, do Borgonha e do Colares. Um mar de vinho dentro de vidro e espadachins de amigos sobre pipas. Não conto a ninguém estes meus desejos secretos.

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