digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, abril 21, 2006

Magno

Se tivessem deixado as coisas quietinhas... mas cada neto teve uma talhada. Três talhadas ao todo. Cada neto dividiu o seu bolo. E como eram quase todos gulosos andaram à bulha por causa das fatias dos outros. Se tivessem deixado as terras sossegadas... O que Carlos uniu dividiu-se por três e por centenas e por milhares. A terra diluiu-se em sangue, cortou-se com ferro. Se tivessem só lavrado e não cortado... Quando Dürer pintou Carlos esqueceu-se do neto do meio, porque os lambões já lhe tinham provado quase todo o manjar. Se tivessem deixado posta a mesa de Carlos e somado mesas e cadeiras para mais se juntarem à festa e ao banquete teria corrido muito vinho em festa em vez de sangue em lágrimas. Hoje procuro bocadinhos e fragmentos da explosão. Estilhaços das batalhas. Retratos pequeninos de homens grandes atrás das espadas, mínimos na lei de Deus... como quase todos nós. São centenas e milhares as suas impressões digitais. Se deixassem as coisas quietinhas, hoje eu não tinha tanto trabalho. Muitos brasões, muitas terras, muitas famílias, muitas vidas, muitas terras, muitos dramas, muito sangue. Se tivessem deixado a terra sossegada, as árvores teriam dado mais fruta e da paz nasceriam mais homens e menos pestes. Haveria mais vida e trabalho. O sangue correria descarrilaria menos das veias. Se tivessem deixado quieta a herança de Carlos...

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