digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, abril 25, 2006

Coração

É o músculo central da circulação sanguínea. Sem ele este meu corpo era apenas corpo. Existe em mim e acho-o muito mais do que é. Existe em muitos outros animais, além do homo sapiens sapiens. As minhas gatas têm um coraçãozinho que bate dum modo muito terno. Já os escutei sob os pêlos macios e quentes. O sangue delas corre mais quente do que o meu.
Atribuo-lhe capacidades de guardar e processar sentimentos. Sei que não o faz. Em sentido figurado é senhor de sentido moral, coragem, ânimo, benevolência, valor, franqueza, memória, boa-vontade e piedade.
O de algumas aves fica bem na sopa... na canja! Não gosto de canja. Quero dizer, não gosto de canja com massinha nem com arroz. Não gosto de arroz nem de massinhas na sopa. Em nenhuma delas. É por culpa desse hábito que rejeito as canjas. Prefiro a de pato à de galinha.
Os heróis destemidos e habilidosos com as mãos fazem façanhas: cortam o da vaca em fatias grossas e temperam-nas com sal e especiarias, e cobrem-nas com bom vinagre, onde fica a marinar dez horas. Depois escorrem-se as lâminas dessa carne e juntam-se numa caçarola com toucinho derretido, com o qualsão salteadas por um quarto de hora em lume bravo. As lascas do dito vão depois para uma panela de loiça com cebolinhas e dentes de alho acompanhadas de vinho tinto para cozer por sete horas. Nessa altura está o músculo pronto a comer.
O meu palpita de gulodice só de escrever estas linhas. Ainda não digeri a canja anterior e já sonho com pitéus demorados. O coração ainda me mata de prazer!...

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