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– Sabe, o céu azul não me liberta da dor.
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Não lhe respondi, porque não percebi por que não e não o quis contradizer e magoar e, na verdade, pouco me importou, pois tinha a certeza que sim.
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Ficámos em silêncio. Naquele silêncio, que me incomodou, percebi que é verdadeiro o que acabara de me dizer.
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Olhámo-nos, como se estivéssemos parados contemplando uma estrada imensa que não se quer percorrer, mas que é obrigatória. Pensei na escola, como sinónimo.
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Incomodado comecei uma frase, que não passou da primeira sílaba, e fui interrompido.
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– O azul salva, porque é lindo, é o começo, a essência e o fim da arte.
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– Então, o azul…
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– O céu é outra coisa. Qualquer coisa, mesmo que seja azul, não salva.
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– Então…
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– É como a felicidade. O que é a felicidade? Dinheiro? Amor? A despreocupação? Existe. Existe em muitas coisas. Coisas e estados de alma são coisas e estados de alma. O azul é um reflexo de Deus invisível. É a diferença entre ser, estar e conter. Qualquer um desses verbos tem de ser percebido, mesmo inconsciente ou desmentido com desprezos céptico ou impertinente.
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– Se conseguir ver Deus... ou o seu reflexo… ou o que julga ser Deus ou seu reflexo… estará salvo.
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– Todas as regras têm uma excepção.
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– …
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– Há uns comprimidos azuis que são milagrosos. Mas o milagre não é serem azuis. O milagre é acreditar que são miraculosos porque são azuis.
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– Compra sempre desses?
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– Só desses. Há doutras marcas, mas não são azuis.
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