digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, julho 22, 2018

Por que amor


.
Por que escrevo de. Por que escrevo por ela. Por que só posso escrever por ela? Posso escrever algumas palavras que não as unam? Posso escrever algumas palavras que não as unam.
.
Isso interessa?
.
Estou numa casa repleta de horas. As paredes estão brancas, já o foram – gastou-se-lhes os dias.
.
Estou sozinho. É por estar tão longe que a sei perto. Se estivesse mais perto, estaria ainda mais perto. Estou sozinho e perto, no penar da saudade.
.
Uma casa vazia não é uma casa vazia. Nela temos o que nos temos. Somos coisas, afectos e memórias. Nesta nunca me feri como noutras.
.
Aqui amo-a e por ela amo mais toda a gente desta casa.
.
Aqui nem tudo foi de azul – a tal cor de além cor. Escorreram-me lágrimas, sim. Mas. Não vi abatimento nem fonte vertendo e muito menos abatimento-fonte-lâmina. Aqui vivo. Vivo com quem amo, dando-me o tudo importante.
.
Lá vem a pieguice.
.
Não vem.
.
Fazer amor não é piegas. Amar doutra forma para lá do sabido. Nunca! Uma das palavras proibidas, porque se falharem – falham sempre – são catástrofes, é verdade. Não duvido. Se duvido, estou errado.
.
Faço amor e não sei como dizer plenitude. Amo-te é maior ou menor do que adoro-te?
.
Não sabemos. Por isso, os lençóis têm de se amarrotar, de se encharcarem de nós, de nos fixarem os odores. Amo-a ou adoro-a. Ela o mesmo. Importa isso?
.
Importa, porque essa discussão não tem fim. Inversamente a outras divergências, não há dicionário nem calhamaço nem sebenta definindo. O meu corpo-cabeça-alma-boca precisa de saborear o seu corpo-cabeça-alma-boca.
.
Para ninguém se rir por vantagem – aquela teimosia como a das crianças e dos velhos – ela também quer com o seu corpo-cabeça-alma-boca apurar do meu corpo-cabeça-alma-boca.
.
Houve uma quarta-feira. Tanto faz o dia ou qualquer tempo. Dia do milagre da revelação, quando o presente é de futuro e docemente arruma o passado.
.
Por que escrevo de. Por que escrevo de?
.
Não sinto – não sei – o que mais arrumar de palavras e gramática e assassinatos de língua. A língua que amamos, com que nos amamos e trocamos de boca e de corpos em plenitude e explosão.
.
Aquela quarta-feira é eterna.
.
Por aí, nesses refúgios-caverna, senti tantas coisas. Chorei por tantas coisas. Desfiz-me indevidamente por tanto. Mas esta, sem o negrum das outras casas… Esta casa branca tem-me tendo-a e ela a mim.
.
Não sei por que mais escrever. Não sei por quem poderia escrever.
.
Chama-se amor.
.
Amo-a.
.
Se basta? Não! Se bastasse não seria amor.
.
Amo-a.

Sem comentários: