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Por que escrevo de. Por que escrevo por ela. Por que só
posso escrever por ela? Posso escrever algumas palavras que não as unam? Posso escrever
algumas palavras que não as unam.
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Isso interessa?
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Estou numa casa repleta de horas. As paredes estão brancas,
já o foram – gastou-se-lhes os dias.
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Estou sozinho. É por estar tão longe que a sei perto. Se estivesse
mais perto, estaria ainda mais perto. Estou sozinho e perto, no penar da
saudade.
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Uma casa vazia não é uma casa vazia. Nela temos o que nos
temos. Somos coisas, afectos e memórias. Nesta nunca me feri como noutras.
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Aqui amo-a e por ela amo mais toda a gente desta casa.
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Aqui nem tudo foi de azul – a tal cor de além cor. Escorreram-me
lágrimas, sim. Mas. Não vi abatimento nem fonte vertendo e muito menos
abatimento-fonte-lâmina. Aqui vivo. Vivo com quem amo, dando-me o tudo
importante.
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Lá vem a pieguice.
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Não vem.
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Fazer amor não é piegas. Amar doutra forma para lá do
sabido. Nunca! Uma das palavras proibidas, porque se falharem – falham sempre –
são catástrofes, é verdade. Não duvido. Se duvido, estou errado.
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Faço amor e não sei como dizer plenitude. Amo-te é maior ou
menor do que adoro-te?
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Não sabemos. Por isso, os lençóis têm de se amarrotar, de se
encharcarem de nós, de nos fixarem os odores. Amo-a ou adoro-a. Ela o mesmo. Importa
isso?
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Importa, porque essa discussão não tem fim. Inversamente a
outras divergências, não há dicionário nem calhamaço nem sebenta definindo. O meu
corpo-cabeça-alma-boca precisa de saborear o seu corpo-cabeça-alma-boca.
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Para ninguém se rir por vantagem – aquela teimosia como a
das crianças e dos velhos – ela também quer com o seu corpo-cabeça-alma-boca
apurar do meu corpo-cabeça-alma-boca.
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Houve uma quarta-feira. Tanto faz o dia ou qualquer tempo.
Dia do milagre da revelação, quando o presente é de futuro e docemente arruma o
passado.
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Por que escrevo de. Por que escrevo de?
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Não sinto – não sei – o que mais arrumar de palavras e
gramática e assassinatos de língua. A língua que amamos, com que nos amamos e
trocamos de boca e de corpos em plenitude e explosão.
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Aquela quarta-feira é eterna.
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Por aí, nesses refúgios-caverna, senti tantas coisas. Chorei
por tantas coisas. Desfiz-me indevidamente por tanto. Mas esta, sem o negrum
das outras casas… Esta casa branca tem-me tendo-a e ela a mim.
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Não sei por que mais escrever. Não sei por quem poderia
escrever.
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Chama-se amor.
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Amo-a.
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Se basta? Não! Se bastasse não seria amor.
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Amo-a.
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