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As cartas foram postas na mesa e a vidente contou quase tudo
do tudo ou tudo de quase tudo ou quase tudo de quase tudo. Pelos dias, veio à
luz o que contou por vereda complicada e complexa.
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Desenho de Salvador Dali.
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Rainha de Copas e Rei de Copas – encavalitados por Valete de
Copas. Cortando-os para raptar afago, Rei de Espadas e Rainha de Espadas –
arrastando uma Sena, triste e eufórica por mesquinhez.
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Somos de coração. As Espadas são de invejas. Um coração negro
com pedúnculo é o braço que prende a lâmina, brandindo melodiosamente os
quereres.
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Pintura de Normal Rockwell.
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O nosso baralho tem 13 cartas, dir-se-á um naipe. Para quê
mais? Não vamos jogar noutras mesas. Ninguém é diferente, porque somos
diferentes – tomamos ainda as quatro gatas, a cadela e o cão.
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Como maçam de comichão, as pulgas atrapalham e nada de valor
nos trazem. Outros bichos vivenciam amargamente a nossa felicidade. Essa glória
é ruim para quem a inveja. Do inventário – por segredo dos que urdem
malfeitorias de inveja e de malícia – poucos se sabem, tanto do além-espírito quanto
de aquém-corpo, embora conhecendo Rainha, Rei e Sena.
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É gente de sofrimento. Por despeito de ânimo-coração-calor e
ganância-carne-libidinagem, ela cega e ele surdo, ambos por convicção
ateimante. A Sena é um espalhafato de ingratidão-petrificada. Unam-se e conjurem,
sabendo nós que a confiança alimenta a vitória.
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Gostam-nos? Desgostam por a vida não seguir os seus caminhos.
Desgostam-se, então. Quem exige assim sente dor – por abusadora injustificadamente
e aflição indevida, bastando-lhes a aceitação e a benquerença.
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Não passam de três cartas de mão, balbuciando intrigas,
esperando repetidamente pela leveza do sono para que lhes enforteça o querer e
o acerto – até de olhos bem abertos dedilham instrumentos de fazer veneno. Quem
esvoaça fala mais, liberto do corpo, preces de peçonha e do seu corpo etéreo
assalta-nos a confiança com cizânia.
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Quem de alma de pedra-metal – granito e chumbo – não tem olhos
que alcancem remotamente ao seu querer. Por cinismo, os outros dois ensombrecem
as suas virtudes – de brilhar de méritos. Não se é ladrão quando não se visa tirar
tudo. Beleza que, a exigência da cobiça, ensombrecem, pelas insolências, discordando
e cantando letras falsas.
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Certos da ovação, beijamo-nos como fazendo amor e fazendo
amor beijamo-nos.
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Ele de cabeça-perdida, toda em beleza de tudo, de corpo e luz,
índole leve de quem subiu e com chama-piloto ensinando o rumo.
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Ela de cabeça-perdida, porque só uma cabeça-perdida se deixa
perder por uma cabeça perdida.
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Cá em casa faltam Ouros e vamos despejando a casa dos Paus
que nos estorvam as situações. Nem as baralhamos nem queremos. Só Copas. Não amamos
com o baralho todo, assim devem ser os amores. Digamos loucos, como desejamos bem-ser.
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Livres por não prendermos, aprisionando-nos na liberdade.
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Aqui-aí somos Rainha, Rei e Valete: já agora sejamos como na
sueca, temos a Manilha e o Ás. O Jóquer não faz parte do baralho, mas
alegra-nos.
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