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O meu segredo maior digo-o nas praças das cidades, na
imensidão das vistas bravias, no conforto da amizade e ao teu ouvido.
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O luzir ao me teres vale a minha vida. Se tivesse dois
corações, amar-te-iam incondicionais.
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És vontade e viagem. És chegada e estada.
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És dois passados e o único futuro. Ave que migra e retorna.
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És romã. Laranja. Pêra. Maçã. És o fruto da paixão.
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És a exaltação da tranquilidade, o amor perene.
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Agora, quase Verão, és mulher-deusa, bacante da minha cama.
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Irás, sei-o, de sensualidade da infracção, para seres a espada
que me mata dolorido.
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Mercúrio te levará – pagão e medonho. Tenho medo. Sem uma fé
de esperança.
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Rezo a São Cristóvão para que voltes. A Santo António peço
milagre.
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És-me tudo. Generosamente de gratidão te agradeço,
oferecendo-me no martírio da paixão e no êxtase de calma. No fogo do Inferno.
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O meu sangue, de sacrifício e verdade, alimenta-te. O teu
retorno é o regresso do amor.
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Tenho a dizer dos teus lábios. Tenho-te todo o corpo.
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Sem incertezas – és uma verdade, que se colhe e se sabe
partirá – do delito.
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Nessa angústia, tenho-te certa. Ainda que no intervalo de
dança te perca. Beba tanta dor.
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Só há uma verdade. Depois, os pontos de vista e os equívocos.
Silenciam-se nas omissões, criam-se enganos.
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Não há mentira sem verdade – toda ela ilumina tudo.
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Não há só flores. Não és só flor. És a dioneia e a dedaleira-roxa.
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Morro e sobrevives, para te poder morrer novamente.
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Em ti morro, por ti vivo. Se me pudesse ilimitado.
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Sou-te pleno. Não menos espero – iludido na verdade.
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Se eu fosse todo o mar e indivisível, sabes só teu.
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Fosses o meu barco, único de verdade e eternidade e também as
ondas.
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Livre e aberta, fechas-me numa tristeza.
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És da natureza, garantes-me. Sou-te a terra e o ar. Bebes nas
águas que libertas, desaguando em mares alheios. Incendeias-te ao longe,
queimando-me.
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És o folhear, dos castanhos, pelo vento. És o céu barroco do
Inverno. És fervor fulgurante da Primavera.
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Choro no Verão. Em todas as horas sobrantes. Quando a minha
escuridão é o holofote rompendo-me o sono, devorando a fé e suicidando-me.
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É sempre, sei-o. Assim o será.
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Sempre significa sempre.
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Vives também no longe e morro por te saber vivendo uma vida
estrangeira, nos dias doutros lugares, onde a dança que me proíbe – o meu segredo
revelando o teu segredo – é me abstenho, libertando-te desapegado, ciente que me
faltrás.
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Quando és outra e eu o mesmo.
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Se te peço para não me faltares é porque sei que me faltarás,
consumida por outras chamas e saciada e molhada te dás.
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A Terra rodopia. Tonto vou caindo e levantando-me, morrendo
e sobrevivendo.
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Na certeza – desejando eu o desacerto da intuição – essa da transgressão.
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Cá estarei calado, esperando da tua boca um beijo e o teu
corpo sobrado.
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Que silêncio me cale para não falares o que não quero ouvir,
mas sei.
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Não te exaures nem esmoreces, das danças e do repouso que te
cansa as vigílias, dos dias sempre seguintes até ao despertar.
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És minha, sabendo que não o és, noutros lugares.
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Dizes-te liberal, mas não te sei se eu o fosse e me desse
também.
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