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Disse-te, depois da revelação do teu esplendor:
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– Como é possível a bonança? Não houve guerra nem tempestade.
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Disse-te um segredo. Palavras-engrenagem da macieza do sono
depois de fazer amor. O que te disse, eu?
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– Como é possível a tormenta? Se não houve trovoada nem mar
alevantado, engolindo todas as palavras de dizer no instante certo.
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Abracei-te como se dissesse alguma coisa acertada. Ouviste-me
dizendo qualquer coisa acertada. Falaste:
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– …
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Juntámos os lençóis, ajeitámos as almofadas e encaixámos os
corpos. Cada beijo, cada gota dos suores misturados, cada nascente tua, cada
erupção minha… todas de ternuras tremendas.
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Castigaste-me com o prazer – aquele sabido e que se esqueceu,
sem nunca se ter esquecido. Castiguei-te com o prazer do prazer.
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Passaram-se dez anos. Menos que isso. Passaram-se vinte
anos. Passaram-se todos os anos da saudade.
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– Como é possível esquecer? Como – graciosa dádiva – não esquecemos?
Ficámos épocas de minutos no desejo que se deseja desejando. Esperámo-nos com
todos orgasmos adiados.
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Disseste-me de todos tempos, das horas e dos anos, em que
fui um fantasma agarrado ao desconsolo. A minha memória indigesta e o meu desconsolo
quase-infinito. A sua memória amarga e o seu desconsolo, quase-infinito,
enquanto se perdida numa festa e num choro. E eu estendido prestes-morto.
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Na verdade, não mo disseste. Não precisaste de me dizer amor.
Sempre mo deste. Sempre te li os olhos – tanto amor, afago e a paciência de
quem espera.
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Os teus olhos espelhando o Sol. O luzir finalmente
regressado. Tantos beijos que as bocas contiveram. Deslumbrámo-nos na Lua dos
quereres, dos reencontros e dos êxtases.
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– Ainda bem que voltaste.
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– Ainda bem que voltei. Ainda bem que voltaste.
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– Andei bem que voltei.
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– Ainda bem nos viemos.
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Qual a cor do amor? Qual a do desejo? A do bem-querer? A do
retardar? Azul? Escarlate?...
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Não importa. As línguas oferecendo-se escondem-se. Os beijos
são de.
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Orgasmos de.
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Calámo-nos.
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Assim de tormenta e bonança. Bem-aventurança.
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