digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, dezembro 20, 2017

Tenho um pequeno atlas de locais onde sou

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Em Lisboa quase tudo é luz, do chão ao Tejo. Se pudesse ser outra pessoa, achar-me-ia também nesta cidade.
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A vista da catedral e a ponte ferroviária que se lhe antecipa são um momento de passado e hoje, como uma lembrança num álbum de fotografias com familiares desconhecidos. Do primeiro patamar, olhando verticalmente o templo, imagina-se o que terá sido Babel.
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O meu coração ficou enclausurado, por sortilégio, na escuridão de Edimburgo. Cidade de pedra e céu, de anos sem dias.
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O campo é tão grande que se diz pouco e basta: Alentejo e Escócia. Uma só fotografia.
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Não são os socalcos nem o sangue nem o vento baralhado de qualquer lugar: o Vale do Douro e entremontes e rios em sua roda, como o Rei e sua corte, não são o lar.
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O Douro é um afecto diferente. Lindo, de aprumo e alinhação, mas não o amo de peito nem pelos olhos, mas pelo estômago-vida – isso não é menos.
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A natureza é de odores diferentes, mas parentes. O xisto, a esteva e o azinho. O tomate e a laranja. A oliveira e a vide.
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Amo-o pelo vinho e o azeite, por isso todo como ele é – só à mesa se nos podemos achar, não há vida sem ela.
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Não troco nenhum destes lugares por qualquer outro nem deles prescindo nem opto entre eles. A saudade é uma dádiva, enfim, a ubiquidade seria um milagre para a banalidade.
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O Douro é um assombro, por mágica de alguém.
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