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Em Lisboa quase tudo é luz, do chão ao Tejo. Se pudesse ser
outra pessoa, achar-me-ia também nesta cidade.
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A vista da catedral e a ponte ferroviária que se lhe
antecipa são um momento de passado e hoje, como uma lembrança num álbum de
fotografias com familiares desconhecidos. Do primeiro patamar, olhando verticalmente
o templo, imagina-se o que terá sido Babel.
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O meu coração ficou enclausurado, por sortilégio, na
escuridão de Edimburgo. Cidade de pedra e céu, de anos sem dias.
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O campo é tão grande que se diz pouco e basta: Alentejo e Escócia.
Uma só fotografia.
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Não são os socalcos nem o sangue nem o vento baralhado de
qualquer lugar: o Vale do Douro e entremontes e rios em sua roda, como o Rei e
sua corte, não são o lar.
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O Douro é um afecto diferente. Lindo, de aprumo e alinhação,
mas não o amo de peito nem pelos olhos, mas pelo estômago-vida – isso não é
menos.
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A natureza é de odores diferentes, mas parentes. O xisto, a
esteva e o azinho. O tomate e a laranja. A oliveira e a vide.
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Amo-o pelo vinho e o azeite, por isso todo como ele é – só à
mesa se nos podemos achar, não há vida sem ela.
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Não troco nenhum destes lugares por qualquer outro nem deles
prescindo nem opto entre eles. A saudade é uma dádiva, enfim, a ubiquidade seria
um milagre para a banalidade.
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O Douro é um assombro, por mágica de alguém.
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Fotografias na Quinta de Foz Torto. Belos vinhos se fazem aí.
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