digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, dezembro 01, 2017

As gatas

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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – de perder as gatas, numa praça que leva a praças, em que escadarias, em lusco-fusco, levam e trazem, de garagens metálicas-de-vidros-sujos de centros comerciais e rodogares, e em escadas-rolantes dos grandes aeroportos. Só tenho medo desse outro mundo, só receio outra lua. Tenho o susto desses cinzentos.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – da crueldade, de as perder e de as encontrar sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – do sangue, do odor calado do sangue, do olhar baço, como o do Chuqui no quatro de Outubro, sabendo-o perdido e jurando o delírio de o ver ainda vivo.
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Tenho pesadelos – todos diferentes – todos iguais – que a Lioz não retorne do vinte e um de Novembro e se ausente como as outras, perdida nas praças que levam a praças e de a encontrar sem que me reconheça e sem que a saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – das gaiolas de gradeados tristes dos gatis e dos miados-barulho do pavor. Da luz amarela das lâmpadas no Inverno, do óbito pressentido de as encontrar sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – de ser crucificado na agonia visceral e da severa tortura da música blues. Por essa antecipação, só tenho a voz de me perder e sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Não quero saber da morte, não acredito. Sofro por pesadelar nas praças-multidões sem nos reconhecermos e dos desencontros.
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Não me lembro se há árvores.
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Nota: Só a despedida do filho faria chorar além.

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