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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – de perder
as gatas, numa praça que leva a praças, em que escadarias, em lusco-fusco, levam
e trazem, de garagens metálicas-de-vidros-sujos de centros comerciais e
rodogares, e em escadas-rolantes dos grandes aeroportos. Só tenho medo desse
outro mundo, só receio outra lua. Tenho o susto desses cinzentos.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – da crueldade,
de as perder e de as encontrar sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – do sangue,
do odor calado do sangue, do olhar baço, como o do Chuqui no
quatro de Outubro, sabendo-o perdido e jurando o delírio de o ver ainda vivo.
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Tenho pesadelos – todos diferentes – todos iguais – que a
Lioz não retorne do vinte e um de Novembro e se ausente como as outras, perdida
nas praças que levam a praças e de a encontrar sem que me reconheça e sem que a saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – das gaiolas
de gradeados tristes dos gatis e dos miados-barulho do pavor. Da luz amarela
das lâmpadas no Inverno, do óbito pressentido de as encontrar sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Tenho pesadelos – todos diferentes, todos iguais – de ser
crucificado na agonia visceral e da severa tortura da música blues. Por essa antecipação, só tenho a voz de me
perder e sem que me reconheçam e sem que as saiba.
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Não quero saber da morte, não acredito. Sofro por pesadelar nas
praças-multidões sem nos reconhecermos e dos desencontros.
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Não me lembro se há árvores.
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Nota: Só a despedida do filho faria chorar além.
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