digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, maio 07, 2017

Luz e silêncio

.
A última vez que vi a minha mãe, os dois aqui na Terra, tinha os olhos tão meigos e parados, sei agora que em premonição, como imagino me terem visto ao nascer. Acenei-lhe sorrindo e ela olhou-me.
.
A última vez que falei com a minha mãe, os dois aqui na Terra, pareceu-me um passarinho, aquele pardal que peguei, escaldado e pensei sedento, e morreu nas mãos.
.
Nesse fim de tarde, alguém atendeu o telefone lho deu, porque não o ouvia. Pareceu perceber todas as palavras, era surda. Respondeu-me baixinho e doce como um passarinho, a pressenti sem a ouvir.
.
Despediu-se assim, em suicídio por desistência.

Sem comentários: