digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, março 07, 2017

Os olhos da mãe

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Por aí, pela espiral de Oz ou para o buraco das Maravilhas. Aqui não apetece, este tempo ou qualquer rua onde more ou rosto para retribuir olhar. Falando engano e custa-me como engolir com a garganta inflamada, por aquela obrigação.
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Há locais onde não há nada.
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O corredor da casa antiga, a janela aberta frente ao céu, o armário que guarda o urso de peluche, a noite antiga onde apenas a chuva, a praia no Inverno.
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Quando a mãe se ia embora, dizia-lhe adeus lá de cima e ela acenava-me antes de desaparecer atrás dos prédios. Via umas bolas com um rendilhado, talvez floral, translúcidas, quase invisíveis, pairando – chamava-lhes andorinhas. Na parede do terraço estavam penduradas andorinhas de loiça. Na Primavera vinham as andorinhas. No princípio do Verão chegavam as joaninhas.
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Mas hoje.
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Tenho a infância guardada para não a perder, tem menos tristeza e memória. Se abrisse a gaveta talvez se corroesse vorazmente a fragilidade.
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Para Oz e Maravilhas, vai-se olhando para um espelho virado para cima. Todos os lugares existem, nalguns não há nada e noutros guarda-se tudo.
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Cresci tanto quando atei sozinho os atacadores dos sapatos e hoje sou pequenino.
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Hoje sei da despedida dos últimos olhos da mãe. Ainda antes de o saber senti-me menino e quis as andorinhas de volta.
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Nota 1: O filme «Alice no País das Maravilhas», rodado em 1903, foi realizado por Cecil M. Hepworth e Percy Stow. O elenco é formado por May Clark, Cecil M. Hepworth, Blair, Geoffrey Faithfull, Stanley Faithfull, Margaret Hope McGuffie (Mrs. Hepworth) e Norman Whitten.
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Nota 2: O filme «O Feiticeiro de Oz», rodado em 1939, foi realizado por Victor Fleming. O elenco principal é formado por Judy Garland, Bert Lahr, Frank Morgan, Jack Haley e Ray Bolger.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Abraço e um grande beijo de saudade para a tia Adelina. V.R.