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Mãe, crescer é estúpido. Para que se vai quando se pode
ficar?
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Esta madrugada olhei-me ao espelho tal como quando era
miúdo. Amadurecer é ter mais cara à volta dos olhos.
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Estavam verdes, às vezes e poucos souberam. Fiquei minutos
vendo na pele a tristeza, esquecendo o bem – a ingratidão da minha memória.
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Fiquei sem pensar em mais nada do que os meus olhos verdes,
reconhecendo-me finalmente, há tanto que não, e a pele. Foram minutos que não saem.
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Adormeci esquecido do dia da contemplação antecipada do fim.
A mãe está mais feliz e todavia exausta.
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Acordei em vazio, sem noite nem manhã, só dor das cãibras.
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Lembrei-me e chorei por causa do gato invisível de Alzira e
dos dentes todos que uma gaja roubou ao Francisco.
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Não foi por isso. Foi por ver a mãe. Envelhecer é ter olhos
maiores do que a cara e cabelo desistente.
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Desejo-lhe brevidade, por lhe amor e por mim. Agora que está
mais feliz vê-se-lhe a tristeza.
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Mãe, nunca lhe mostrarei as lágrimas nem tenho medo que morra.
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