digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, setembro 24, 2016

Névoas

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Há a lei e a transgressão. A vida é juízo e riso. Pouco será tão arrogante quanto dizer que de nada se arrepende.
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É-se velho no inevitável lamento mas cego ao espelho, certo de que nenhuma nos faltará, sobretudo com um roadster descapotável.
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Quando se vai a um armazém de tristezas e negações e se paga para dançarem nuas no colo, roçando os mamilos nos lábios, largando perfume barato e pó-de-talco, para mal disfarçar esperando ciúme, que provavelmente não acontecerá.
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Quando se vai às putas.
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É-se velho quando a geração é gorda, sofre de cancro, deixa de fumar e se casa pela segunda vez, porque só ouvem as canções dos dezasseis anos ou as que eram pirosas, paralisados diante do ecrã do computador em Error 404, e as fotografias antigas não fazem sentido e nem se reconhece.
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Falta o tempo da esperança, muito mais do que os cabelos esbranquiçando-se. Quando se esquece a jura de que a verruga é perfeição adormecida.
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Quando já não se sabe se sabe e nem a incerteza é certa.
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Quando dizemos que antigamente é que era bom, a música agora não presta, os jovens não se sabem vestir nem pentear.
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Quando a escola não ensina e os miúdos saem sem saberem coisa alguma.
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É-se velho quando se vive, acordado e dormindo, a derrota e sonhando se faz da vingança a justiça, na felicidade de fim de livro, realizado e reconhecido.
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Quando nada se diz para nada ouvir.
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Quando se diz que velhos são os trapos.
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Quando se diz que não se caminha para novo.
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Quando nega ser o que se garantiu nunca estar.

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