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Feio. Sou feio. Sou mesmo feio. Mesmo muito feio. Mesmo muito.
Mesmo. Mesmo feio.
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Março, marçagão, de manhã gente e à tarde cão.
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Olha os olhos. Os olhos de mergulhar, areia movediça dos
enganos. À volta está o medo, a rudeza, as rugas, o passado que não se esconde,
as lembranças odiosas, as vergonhas de carácter, as canalhices adolescentes, as
senvergonhices adultas, as filhadaputices sem perdão, aquela noite em que
cheirei e vi que era verdade o que dizia sobre a negritude da branca.
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Não importa se fora zetário se a consciência era adulta e
apenas ensurdeci por facilidade. Porque não importa quando a dor. Não, não foi
sem querer nem sem saber. Não importa, sou culpado.
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Perdoaste? Fizeste mal! Porque sou feio. Bem te disseram,
bem lhe disseram que eu – mentirosos, videntes e verdadeiros.
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A imundice, asquerosidade, vampirismo, vómito e insónias não
se escondem nem Basil Hallward me pintou.
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Antes fosse amoral. Antes inconsciente. Antes amnésico.
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Mas o mal que não fiz, não fiz! Desse não me posso
arrepender nem acusar.
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Como marçagão, cara de cão.
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