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No maior desalento que a boca consegue, disse-lhes:
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– Assim tento.
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Olharam-me sem expressão e esperando que sorrisse. As
palavras foram ditas e por magia.
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– Vêem? Não há sujidade. Está tudo limpo. As folhas insistem
e a água cola-as, porém o vento. Mas está tudo limpo.
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Olharam-me sem expressão e esperando que dissesse outra
coisa, que percebessem. As palavras foram ditas e por dimensão.
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– Vêem? Os paralelepípedos de granito vão para fazer
estradas, estão ali para que se possam retirar facilmente. Os pneus, ali
naquele canto à espera de interesse.
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Olharam-me sem expressão e esperando compreender o que
acabara, se por graça ou desvio. As palavras foram ditas e as coisas invisíveis
ficaram.
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– Vêem? O Outono é assim. É impossível o chão ser
perfeitamente plano, por isso a chuva cria poças.
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Olharam-me sem expressão e despediram-se informalmente, nem esperando
compreender e descontando-me todo o talento, qualquer capacidade ou ínfima vontade.
As minhas palavras consumiram-se invisíveis e imateriais.
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Olharam-me amnésicos do talento, capacidade e força, não retroviram
nem esperaram saber. Sabia-o e disse-lhes uma das duas verdades. A que não
interessa, porque para a outra não têm cadeira para que me sente. Andaram com a
desculpa e comprovada certeza – sem se saber ou perceber não há remorsos.
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Reconheço que a realidade raramente interessa. O dia-a-dia é
fastidioso, porque a vida acontece muito devagar ou só acelera um pouquinho e
quase sempre num só sítio. Poucas vezes se verte em euforia: muitas tristezas,
poucas alegrias e quase tudo tépido.
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Quando sinto a vida tépida lembro-me, numa memória inventada
por decalque de fotografias, de quando minha mãe me banhava. Não tinha de
pensar, o dia-a-dia não acontecia, bastava-me o amor e de comer. Esse tempo suspeito
que fosse de alegria.
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Às vezes faço um leito quente onde mergulho esperando que
outra vida, mesmo o indesejável. Saio desiludido, com desgostos e mágoas, e o
desejo indesejável. Apercebo-me que podia ter urinado no banho para rebentar a
raiva, sou manso e nulo.
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