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Tenho de dizer do Outono, uma porta funda e densa entre. O
muro alto está longe e a altura dos ciprestes que vedam a entrada não conseguem
contra o vento persistente e as gotas frias. É um silêncio. É o silêncio das
coisas fazendo a cama.
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É uma moldura em talha dourada – faço de personagem na tela.
Quase sem rosto ou sombra ou rugas de roupa. Não me desagrada o caminho, desde
que o cimo das costas esteja quente.
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No Verão fazem festas com flores de papel, latadas e tapetes
e toda a gente se ri de qualquer coisa, pois há o calor. Vou tão devagar quanto
consigo porque deleito-me nas cores invisíveis e vento e gotas. A princípio
aborrece-me que os sapatos fiquem salpicados – nada que dois pontapés numas
pedrinhas não resolvam, e as folhas levantam-se preguiçosas, indolentes e caem
dormindo na antecâmara da morte e um dia virá a ressurreição, a terrível
Primavera.
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Um dia chegará a Primavera, insuportável e histérica. As
folhas alimentam o chão e tudo quer fazer amor com tudo.
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Tenho de dizer do Outono e da melancolia, sincera e íntima e
embandeirada pelo vento. A do Verão corta, a do Inverno esconde e a da
Primavera. Detesto a Primavera.
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