digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, outubro 25, 2015

O jardim quase infinito

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Tenho de dizer do Outono, uma porta funda e densa entre. O muro alto está longe e a altura dos ciprestes que vedam a entrada não conseguem contra o vento persistente e as gotas frias. É um silêncio. É o silêncio das coisas fazendo a cama.
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É uma moldura em talha dourada – faço de personagem na tela. Quase sem rosto ou sombra ou rugas de roupa. Não me desagrada o caminho, desde que o cimo das costas esteja quente.
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No Verão fazem festas com flores de papel, latadas e tapetes e toda a gente se ri de qualquer coisa, pois há o calor. Vou tão devagar quanto consigo porque deleito-me nas cores invisíveis e vento e gotas. A princípio aborrece-me que os sapatos fiquem salpicados – nada que dois pontapés numas pedrinhas não resolvam, e as folhas levantam-se preguiçosas, indolentes e caem dormindo na antecâmara da morte e um dia virá a ressurreição, a terrível Primavera.
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Um dia chegará a Primavera, insuportável e histérica. As folhas alimentam o chão e tudo quer fazer amor com tudo.
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Tenho de dizer do Outono e da melancolia, sincera e íntima e embandeirada pelo vento. A do Verão corta, a do Inverno esconde e a da Primavera. Detesto a Primavera.

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