digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, outubro 12, 2015

Ela foi cortar o cabelo

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– Disse-me:
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– Vai à merda.
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Antes que tivesse pressentido o disparo à queima-roupa ou a razão esticara-lhe os lábios para lhe pedir um beijo. Ríspida:
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– Estás parvo?!
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– …
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– …
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– O que foi?
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– O que foi é que nunca sabes o que foi.
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– …
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– Onde nos conhecemos? Onde? Quem nos apresentou? O que fizemos depois? Quando foi? Juraste-me amor? Que me disseste?...
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– … A vida toda. Antes de ti não havia mundo e o universo era órfão…
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– Já mo tinhas dito.
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– É verdade!
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– Já mo tinhas dito.
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– Afinal lembro-me.
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– Não te lembras de mo teres dito.
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– Disse-te a verdade. Ontem e hoje e certamente amanhã.
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– És um desmancha-prazeres… adoro-te porque não mudas e gostava que mudasses para te trocar por que mudaste e gostava que não mudasses para findar. Não posso, assim.
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– …
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– Vou cortar o cabelo.
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– (A coisa é grave).

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