digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, setembro 02, 2015

A virgindade – As adolescências

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Quantas vezes se pode ser virgem?
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Tantas quantas as pessoas do mundo, deste e do outro. Uma vez na vida e uma em cada regresso. Uma cada em vez...
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Estava uma Lua apagada e da rua vinha uma luz que nos observava. Ébrios do vinho e enleados na tremura do fogo das velas.
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Porquê? O vinho marcava horas escuras e despimo-nos em confidências.
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– Começo eu! A primeira vez:
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– Fui almoçar a casa dos pais, que estavam fora. Éramos quatro e no final levou-me para o quarto e disse-me:
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– Há que tempos queria fazer isto!...
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– Despiu-se, menos a camisa branca, por pudor. Ela em cima e eu em baixo.
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A tua primeira vez:
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– Eu?!
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– Podes ser…
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– Fomos passar o fim-de-semana a casa de amigos e ficámos a dormir na sala, com os sacos-cama fechados um no outro. Entre beijos e afagos, avancei e avancei e foi. Disse-me:
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– Estava à espera que fosse diferente.
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– A tua primeira vez?
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– Estava muito longe. Muito longe, ela desceu do primeiro andar até à cave, onde ficava o meu quarto com porta para o jardim. Entrou na cama e tentei, entre beijos e afagos. Não era o tempo, percebi, e não sei se mo disse. Disse-lhe:
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– Quando quiseres…
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– Quero já!
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– Depois veio o silêncio dum abraço denso e subiu.
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E tu, como foi?
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– A primeira vez:
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– Vi-a impressa e um dia conheci-a sem saber que era ela. Tantas vezes tentámos e eu fugia. À terceira, num Renault 5… nos bancos da frente… metemos a quarta, mas não passei da primeira. Mais tarde, num quarto duma pensão de putas… não tínhamos dinheiro para mais e a cama rangia muito. Muito mais do que os orgasmos. Não sei qual das vezes foi a primeira vez.
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– Então e tu? Como foi?
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– A primeira vez:
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– Conheci-a na noite. Houve aquela magia dos ímanes…
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– És piroso.
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– Posso contar?
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– (…)
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– Uns dias depois… fiquei a dormir em casa dela, porque era muito noite e estávamos muito cansados de falar e com vontade de proximidade. Vinho e nada mais do que proximidade…
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– (…)
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– Mas era muito noite e estávamos muito cansados de falar e com vontade de proximidade. Fingi que adormeci e no maior do desejo maior, acariciei-lhe as nádegas. Era Verão e ambos vestíamos apenas cuecas e uma camisola fina. Por fora, em círculos menores, em círculos maiores.
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– (…)
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– Não reagiu. Desejava um beijo ou um estalo, nem que fosse um escândalo pequenino. Ousei e desci. Mergulhei a mão. Desci e cheguei. Acariciei-lhe e humedeceu. Não acordou…
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– Então?!
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– A manhã seguinte não teve significado. Era uma mentira. Eu castigava-me por dentro pela ousadia do que fiz e por não ter conseguido. À tarde disse-me:
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– Hoje ficamos em tua casa. Dormimos lá.
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– Ok?! Porquê?!
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– Fiquei espantadíssimo. Fiquei como um gato na estrada, na noite e dos pinhais, paralisado pela luz do automóvel imparável. O coração a querer perceber e o cérebro a bater cada vez mais forte. O que queria ela dizer.
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– Não é o que querias?
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– Sentiste?
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– Senti. Não haveria de sentir? Vamos fazer o que não fizemos.
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– Por que não reagiste?
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– Quis saber. Quis dizer-te isto hoje.
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– (…)
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– (…)
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– Faltas tu.
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– A primeira vez:
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– Estava muito bêbado. Não sei quem era e nunca mais a vi.
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– Nunca mais!
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– (…)
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– (…)
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– Mas aconteceu?
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– Aconteceu, mas… não sei se posso garantir se continuei virgem, não me lembro de como nem dela, nem o nome.
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– E a vez seguinte?
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– Não sei se ainda era virgem.
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