digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, março 13, 2015

Quando velho

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Vida inspiração de morte. Frio de sono, linha recta de pensamento visível entre o crânio e o cérebro, saudade das infundadas declarações de amor, paixões instantâneas, sofreguidões e sofreres de adolescência.
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Quando se descobre que se envelheceu. Não pelo agrisalhamento, pela distância das letras próximas ou retrato do espelho. Vendo os outros e seus brilhos opacos. Consciencializando a vontade de viver adolescente.
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Velho, quando o desejo é inveja das inconsciências, quando do nojo do feito – corações partidos, coração quebradiço, álcool e infidelidades persistentes.
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Velho, quando se ouve a música que se ouviu, persistentemente. Quando o cantor celebra sessenta anos, indiferente à sensibilidade do idólatra.
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Velho, quando se bebe menos e os olhos pestanejam lentos, lentos a desligarem-se num movimento cego. Velho na dor persistente, desvendo os brilhantes, olhos-chamarizes. Velho na adolescência caduca.
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Velho, quando «Os verdes anos» perfuram o tronco e as mãos dedilhantes apertam as vísceras dos sentires. Quando o choro é seco, quando um homem não chora, chora escondido.
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Quando se acabaram os casamentos e os encontros são às portas das capelas mortuárias. Quando tanto faz.
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Quando tanto faz e se esconde a inveja da adolescência – pior do que saudades, quando se ouve a música que se ouvia.

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