digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, março 20, 2015

Helios e Selene

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O último eclipse visto em Portugal foi em Agosto de mil novecentos e noventa e nove. Gratas memórias, que obliteraram qualquer acontecimento – a história, a tirânica, não vai guardar nada mais desse ano… tão relevante que levei minutos e minutos para descobrir que aconteceu a dia onze.
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Um fenómeno assaz curioso e estimulante do ponto de visto intelectual, pois por maravilha o próximo vai acontecer em Agosto… e no dia doze. Não é totalmente, completamente, esborrachantemente uau?!
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De tempos a tempos… Começando pelo princípio: Há muito, Cronos castrou Urano, seu pai… sua mãe, Gaia lançou os genitais ao mar…
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Perdi a erecção, erguida pelo interessante eclipse de hoje.
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Ah! Espera!... do sémen deitado ao mar nasceu Afrodite…
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Recuperei o tesão.
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Urano e Gaia tiveram um filho chamado Hiperião e uma filha chamada Teia… ora, estavam um dia em casa sem nada para fazer e foram para o quarto e começaram.
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O mano e a mana fizeram Helios, Selene e Eos – o Sol, a Lua e a Amanhecer.
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Já se percebeu que os Deuses eram uns foliões. É por isso que, de tempos a tempos, Selene esconde Helios. Huummmmm…
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Voltando a coisas mais edificantes e menos parecidas com os serões à lareira – em qualquer aldeia – em que as velhas enumeram gente e gente, parentes e parentes, infidelidades e infidelidades, heranças e heranças, chatices e chatices… fica-se a perceber tanto quanto no início da conversação, pelo que o melhor é dizer que sim a tudo, com regulares e sossegantes hã-hãs… Não vale a pena falar na Teoria de Eva, não vá as velhotas começarem a tagarelar acerca de Adão e com eufemismos sobre da beleza do pároco ou da sua mulher, designada por Mariazinha, que trata da casa do páraco e que, por mero acaso, toma conta de seis crianças – parecidas com ela e com o sacerdote – filhas duma parente que faleceu jovem, logo após o marido se ter finado com tuberculose. Nada de maus pensamentos, porque a Mariazinha vive na casa ao lado… se à noite entra na residência do cura é porque lhe pareceu ouvi-lo tossir e foi ver se estava agasalhado, com a roupinha de cama a cobri-lo convenientemente e fazer uma tisana de casca de limão, sumo de limão e mel, pois a saúde da voz é fundamental para que a Santa Missa seja bem dita. Ou bendita?!
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Regressando ao que interessa. Há coisas bem giras: em mil novecentos e noventa e nove eu tinha vinte e nove anos, em dois mil e vinte e seis terei cinquenta e seis. Ora, dois e mais nove dá onze… e cinco e mais seis dá onze!
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Isto é ciência?
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Bem, de dois mil e vinte e seis logo saberemos, sendo que à partida é certo que o eclipse será o mais empolgante acontecimento, tal como o foi em mil novecentos e noventa e nove, certamente em dois mil e quinze.
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Se alguém duvida, enumero acontecimentos completamente irrelevantes de há quase dezasseis anos… estou já só a referir-me àqueles que ainda conseguiram uma réstia de possibilidade de surgirem num rodapé da história:
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– 1 de Janeiro: início da utilização do euro, ainda que mantendo as moedas nacionais em circulação como fracção, na Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal. Esta ninharia envolveu pouco mais de 300 milhões de pessoas. Os gregos, certamente com vergonha da vida que levavam os seus antigos Deuses, só entraram mais tarde. Como continuam folgazões, são capazes de serem acompanhados à porta da saída, lá para 2026, após o 53o perdão da dívida e falhada a 99a tentativa de reformar a política e a administração do país.
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– 7 de Janeiro: o presidente dos Estados Unidos da América, Bill Clinton, este quase a ser defenestrado da Sala Oval, por causa de joalharia. Normalmente é feito de joelhos.
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– 15 de Fevereiro: a Austrália admitiu a independência de Timor-Leste.
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– 1 de Abril: foi declarada a independência do Estado Esquimó de Nunavut, no Canadá.
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– 20 de Abril: no Estado norte-americano de Colorado aconteceu o «Massacre de Columbine», em que dois estudantes despejaram uns carregadores de munições e mataram 15 pessoas, incluindo os lunáticos.
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– 30 de Agosto: os timorenses aprovaram, em referendo, a independência de Timor-Leste.
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– 20 de Dezembro: a soberania do território de Macau passou de Portugal para a China, após uns irrelevantes séculos de domínio colonial.
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– 31 de Dezembro foi quase tão interessante quanto o eclipse, mas só porque foram três, quatro, os acontecimentos: a passagem da tutela do Canal do Panamá, dos Estados Unidos da América para o Panamá; a renúncia de Boris Yeltsin como presidente da Rússia; e a obtenção de Parlamentos próprios na Escócia e no País de Gales.
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Até dois mil e vinte e seis iremos viver num tédio… mal posso esperar pelo próximo eclipse!

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