digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, janeiro 11, 2015

Espera

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A carta não chegou. A demora preocupa-me. As más chegam depressa e as boas sempre tardam, a mesma pressa do correio.
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Se o telefone tocasse, uma voz sem cor pronunciasse uma sentença que se escuta em silêncio e obediência, era mais fácil. Se se soubesse o atraso do único relógio, quase sempre parado, quase parado, mais precisa a ansiedade.
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E nada! O pó repousa em camadas de silêncio. A madeira velha da mobília é uma fotografia. A vida não passa, sobram lembranças e fantasmas. Sentado na alma, contemplando-me no reflexo e indeciso se pertenço à cápsula.
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A carta não chega. Talvez escreva uma; um pensamento mágico diz-me que surgirá de imediato. E se não…
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Como é ridículo ser-se supersticioso e falhar o feitiço. Calado digo rezas acabadas de inventar, para que chegue e traga sentença.
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Adormeço noite e noite e noite e noite e sempre assim.
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Enquanto há luz escrevo a escuridão daqui. Acenderei a vela para selar as palavras usando um dedo-sinete. Ficará acesa para afugentar os fantasmas do escuro. Apagá-la-ei para esconder os fantasmas das penumbras.
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Sem nada para comer. Sem nada para morrer. Mais uma noite de espera.

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