digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Ai, amor, que me mataste

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Saturado das cenas de ciúmes, cansado das vergonhas dos escândalos, enjoado pela perseguição sinistra do olhar ao meu olhar, enfadado dos modos controladores e de chantagem, agoniado por tantas vezes repetir provas e actos… menti-lhe.
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Disse-lhe:
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– Acabou-se. Amo outra.
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Ferida, mortalmente intoxicada pelo orgulho, cega de desamor, juntou todas juras, canseiras e perdições – que me amarravam – e fez uma arma de guerra. Com ela agrediu-me, cada beijo dado tornou-se numa bala, cada cama um matadouro, cada jura um veneno, todo o futuro sonhado um deplorável engano.
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Fiz beicinho por vingança, fantasma teimoso. Tão felizmente triste, olhei-a com os olhos do boi antes do sacrifício. Fingi engulho, até me engasguei. Confortavelmente calado para nada ter de inventar e deixei que me rebaixasse, de modo a ser varrido como lixo por debaixo da porta.
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Para a história ficou o meu arraso, assim ainda hoje se ensina nas escolas a tragédia do meu desamor.
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Em segredo e sigilo:
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Cá fora, ar tão puro. Bebi vinho e saí pela rua a beijar na boca as mulheres bonitas.
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Que morte tão boa me matou!
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Nota: Esta cena faz parte do filme turco «Karateci kiz» (mulher karateca), rodado em 1973. Na internet vem referenciada como a pior cena de morte do cinema... desconfio que haja muitas outras pérolas esquecidas.

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