digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, novembro 18, 2014

Vício

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Há em mim um fantasma. Não pesa no peso morto, é chumbo na alma. Seja a alma ou seja eu.
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Nos dias do sangue triste, é mercúrio o que corre nas veias. Pregado no leito esperando a morte, como as crianças anseiam pelo Natal. Pregado no leito chamando a morte.
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Indolente ou procrastino, sonho e desejo a banheira como mar onde desagua o sangue, de ferro ou mercúrio.
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Palhaço patético, agarrado às promessas que faz – credulidade das crianças – de que amanhã será melhor do que hoje.
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O amanhã volta com hoje, ontem, anteontem, antes de anteontem, espiral de dias em vertigem. Dias iguais e memória, talvez falsa, de que se foi feliz.
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Em mim navega – navego – um navio espectral, cortando a dor das lágrimas secas.
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É o mar que dói. As feridas da água curam-se, reúnem-se e apagam-se. É infinito o espaço e o tempo em que a nave rompe em dor.
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Ainda o Sol, é noite de Lua Nova e destino antigo – promessa-castigo abraço firmemente, com a força dos miúdos a segurarem o urso de peluche.
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Vício de tristeza saciado de dor. Fugisse eu.
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Fugisse eu, pregado no leito. Não fugisse eu da fuga, em indolência e procrastinação, pregado no leito.

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