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Há em mim um fantasma. Não pesa no peso morto, é chumbo na
alma. Seja a alma ou seja eu.
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Nos dias do sangue triste, é mercúrio o que corre nas veias.
Pregado no leito esperando a morte, como as crianças anseiam pelo Natal.
Pregado no leito chamando a morte.
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Indolente ou procrastino, sonho e desejo a banheira como mar
onde desagua o sangue, de ferro ou mercúrio.
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Palhaço patético, agarrado às promessas que faz – credulidade
das crianças – de que amanhã será melhor do que hoje.
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O amanhã volta com hoje, ontem, anteontem, antes de
anteontem, espiral de dias em vertigem. Dias iguais e memória, talvez falsa, de
que se foi feliz.
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Em mim navega – navego – um navio espectral, cortando a dor
das lágrimas secas.
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É o mar que dói. As feridas da água curam-se, reúnem-se e
apagam-se. É infinito o espaço e o tempo em que a nave rompe em dor.
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Ainda o Sol, é noite de Lua Nova e destino antigo –
promessa-castigo abraço firmemente, com a força dos miúdos a segurarem o urso
de peluche.
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Vício de tristeza saciado de dor. Fugisse eu.
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Fugisse eu, pregado no leito. Não fugisse eu da fuga, em
indolência e procrastinação, pregado no leito.
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