«Eu não quero ser a luz que já não sou. Não quero ser
primeiro, sou o tempo que acabou».
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A primeira metade da década de noventa foi-me muito especial.
Além das intimidades, que ficarão de fora, lembro-me de dois marcos nesses
cinco anos iniciais: a luta pelas gravuras de Foz Côa e o furacão Pedro
Abrunhosa.
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Pedro Abrunhosa não surgiu do nada. Músico ligado ao jazz há
muitos anos, quis ganhar dinheiro – com todo o direito. Prince estava a
apagar-se, poucos notaram (não notei), e a sua banda de metais electrizou o
álbum «Viagens», desse músico do Porto.
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Ainda comprei o segundo álbum, mas senti uma coisa mole,
chata e que nem me agarrava pelas orelhas por um instante. Já o célebre tema
«Talvez foder» achara um despropósito. Não por pudor, mas por gratuitidade e
indigência.
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Em casa de amigos ouvi, de passagem, Pedro Abrunhosa e
confirmei o que achara com o segundo disco: mole.
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Ontem, sentado a trabalhar, propus-me a ouvir Pedro
Abrunhosa em espectáculo. Para saber se a minha convicção estava errada. Pois,
não estava. O homem é um animal de palco, tem imensa pica. Mas…
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Pedro Abrunhosa em palco continua a ser uma coisa mole, mais
mole do que em disco. Todavia, está cheio de pica. Para mim, é Viagra. O concerto que está no youtube, gravado ao vivo no Coliseu do Porto em 2011, dura duas horas de moleza de picha tesa. Viagra!
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Já se sabia que Pedro Abrunhosa não sabe cantar. Não é
novidade e esse não é o defeito. O defeito é às vezes já não conseguir entoar. À
moleza soma-se mais do mesmo, tanto faz a melodia ou a harmonia, é chapa
quatro. Não consegue dar mais.
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As letras consumíveis – sobretudo devido aos metais do
Prince – tornaram-se quase sempre em repetições, delas mesmas e dos seus
lugares-comuns. As letras de Pedro Abrunhosa são duma banalidade preguiçosa, muitas,
se lhe tirarmos a música, são mesmo pirosas. As letras de Pedro Abrunhosa são
como as de João Pedro Pais, mas em vez de adolescentes, são de jovens adultos.
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Ao ver e ouvir as mais de duas horas de concerto, percebi
que Pedro Abrunhosa é um boneco. Não é uma caricatura, nem hoje é uma
reinvenção. Pedro Abrunhosa é uma mistura dele mesmo com ele próprio. Depois
junta uma pitada de Paulo Gonzo – artista cuja carreira não entendo – e de
azeiteiro.
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Azeiteiro? Sim, azeiteiro. Todos sabemos que no palco se
dizem coisas como na cama:
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– Tu és maravilhosa, nunca estive com ninguém como tu.
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Os elogios ao público, os piropos que manda para a plateia e
as declarações de amor à cidade não chegam a tolas, são azeiteiras. A este
respeito refiro que as reacções do público não seguiram totalmente o esperado.
Felizmente, havia mesmo muita gente inteligente naquela noite no Coliseu do
Porto.
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A crítica de música não é a minha actividade. Não é, não foi
e duvido mesmo muito que alguma vez seja. Por isso, para não escrever mais um
texto a zurzir num artista de palco, aproveito este para apresentar uma
revelação. Comentarei muito pouco, pois deixarei o vídeo, porque «fala» muito
melhor do que eu.
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David Fonseca tem um ar simpático, parece-me ser um tipo
fixe e sempre ouvi dizer bem dele como pessoa. Ouvi-o primeiro, como a
generalidade dos portugueses, com os Silence 4 e depois a solo. Aqui há dois
reparos e uma consideração: as letras são péssimas e não gosto do modo como
canta. Mas ressalvo, que isso é meramente uma questão de gosto.
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Porém, numa infelicidade qualquer, fui parar, no youtube, a
um dueto entre David Fonseca e Luís Represas. O que o produtor consegue
maquilhar no estúpido surge cru numa actuação ao vivo!
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David Fonseca não sabe cantar. Tem um timbre bonito e ainda
que não goste do modo, não deixará de não saber cantar. É doloroso e causa
vergonha alheia. Aguenta-se uns instantes e desaba ribanceira abaixo.
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Nota 1: Continuo a gostar muito do álbum «Viagens», do Pedro
Abrunhosa.
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Nota 2: Para os curiosos – dos mórbidos aos preguiçosos –
fica a dica: No livrinho do álbum «Viagens» há uma fotografia de Pedro Abrunhosa
com os olhos a nu.
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