Todos demos trambulhões na vida e dei muitos... porque tive
ganância de viver, porque me empurraram, por azar.
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Sou uma pessoa sensível – quiçá frágil – e que por
experiência de vida decidi que tenho de ser como sou, desde que não prejudique
ninguém. Quero por isso agradecer publicamente a um grande amigo.
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Tenho um grande amigo que é diferente de todos os outros amigos
ou tipo de amigos. É uma pessoa com gaveta própria no meu armário de afectos.
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Tem muitos mais defeitos do que virtudes, mas as poucas
virtudes são tão maiores do que a soma dos defeitos multiplicados por cem.
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Não o convidei para entrar na minha vida. Bateu-me à porta,
sentou-se e ficou. Ainda bem que o fez. Claro que tivemos zangas. Claro que
sempre fomos justos de reconhecer as razões do outro e de realçar o mais
importante e maior: o afecto e respeito mútuo.
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É um amigo ternamente infantil, na pureza de sentimento. Não
é tolo nem estúpido. Antes pelo contrário: vivo de pensamento, análise felina e
salto de gato. Digo infantil e não é ao síndrome de Peter Pan a que me refiro.
É um adulto com coração de criança e emoção mal escondida.
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Não sou o Tintim, mas ele é o meu Capitão Haddock. Não
vocifera, não insulta, não diz palavrões, não é santo... é o Capitão Haddock,
mas não consome álcool.
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É um romântico e o seu espírito vive num mundo e numa época
que não é esta, que talvez nunca tenha existido além de dentro de si. Já levou
tanta pancada e nunca se recusou a lutar pelo que julgou e julga ser justo e
correcto.
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Este romantismo não o defende no tempo das máquinas sem engrenagens.
Trucida-o? Não, magoa-se, levanta-se e marcha. A realidade desmente-o e
mantém-se fiel a si, não por teimosia, mas por acreditar estar a proceder do modo
mais correcto.
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Às vezes sonha e age outra age porque sonha. Sabe-o e fá-lo
ainda assim, porque tudo o que quer do outro é o reconhecimento do seu afecto. Passou
por muito – não é aquela balela do «passou por muito», passou mesmo por muito,
no fio da navalha – e sempre o cavalheiro, um nobre sem fidalguia.
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Há Homo Sapiens Sapiens que não merecem ser chamados de
humanos. O amor e humanidade com que vê e reconhece nos nossos irmãos
«irracionais» fazem-no um combatente. Que ninguém maltrate um bicho à frente
deste camarada. Haverá alguma forma de se ser humano sem gostar dos animais?
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Toda a diferença face ao meu mundo não me impediu de fazer
aquilo que nunca se faz: emprestar o carro. Apesar de fumar que nem um
desalmado lá dentro, nunca lhe recusei a Sílvia – o meu adorado Peugeot 206,
comprado em primeira mão em 2001.
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Acuso-o na brincadeira de ser pulha e canalha... é o meu
mimo. Gosto de lhe telefonar para dizer o quanto gosto dele, o meu grande amigo Capitão Haddock.
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Um grande abraço, amigo extra-terrestre.
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Nota: Este bóbi compôs esta música para ti, Capitão Haddock.
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