digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, agosto 13, 2014

Lume no peito

Todos demos trambulhões na vida e dei muitos... porque tive ganância de viver, porque me empurraram, por azar.
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Sou uma pessoa sensível – quiçá frágil – e que por experiência de vida decidi que tenho de ser como sou, desde que não prejudique ninguém. Quero por isso agradecer publicamente a um grande amigo.
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Tenho um grande amigo que é diferente de todos os outros amigos ou tipo de amigos. É uma pessoa com gaveta própria no meu armário de afectos.
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Tem muitos mais defeitos do que virtudes, mas as poucas virtudes são tão maiores do que a soma dos defeitos multiplicados por cem.
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Não o convidei para entrar na minha vida. Bateu-me à porta, sentou-se e ficou. Ainda bem que o fez. Claro que tivemos zangas. Claro que sempre fomos justos de reconhecer as razões do outro e de realçar o mais importante e maior: o afecto e respeito mútuo.
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É um amigo ternamente infantil, na pureza de sentimento. Não é tolo nem estúpido. Antes pelo contrário: vivo de pensamento, análise felina e salto de gato. Digo infantil e não é ao síndrome de Peter Pan a que me refiro. É um adulto com coração de criança e emoção mal escondida.
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Não sou o Tintim, mas ele é o meu Capitão Haddock. Não vocifera, não insulta, não diz palavrões, não é santo... é o Capitão Haddock, mas não consome álcool.
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É um romântico e o seu espírito vive num mundo e numa época que não é esta, que talvez nunca tenha existido além de dentro de si. Já levou tanta pancada e nunca se recusou a lutar pelo que julgou e julga ser justo e correcto.
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Este romantismo não o defende no tempo das máquinas sem engrenagens. Trucida-o? Não, magoa-se, levanta-se e marcha. A realidade desmente-o e mantém-se fiel a si, não por teimosia, mas por acreditar estar a proceder do modo mais correcto.
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Às vezes sonha e age outra age porque sonha. Sabe-o e fá-lo ainda assim, porque tudo o que quer do outro é o reconhecimento do seu afecto. Passou por muito – não é aquela balela do «passou por muito», passou mesmo por muito, no fio da navalha – e sempre o cavalheiro, um nobre sem fidalguia.
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Há Homo Sapiens Sapiens que não merecem ser chamados de humanos. O amor e humanidade com que vê e reconhece nos nossos irmãos «irracionais» fazem-no um combatente. Que ninguém maltrate um bicho à frente deste camarada. Haverá alguma forma de se ser humano sem gostar dos animais?
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Toda a diferença face ao meu mundo não me impediu de fazer aquilo que nunca se faz: emprestar o carro. Apesar de fumar que nem um desalmado lá dentro, nunca lhe recusei a Sílvia – o meu adorado Peugeot 206, comprado em primeira mão em 2001.
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Acuso-o na brincadeira de ser pulha e canalha... é o meu mimo. Gosto de lhe telefonar para dizer o quanto gosto dele, o meu grande amigo Capitão Haddock.
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Um grande abraço, amigo extra-terrestre.
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Nota: Este bóbi compôs esta música para ti, Capitão Haddock.
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