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Sinto que o coração não me pertence e que o corpo não
pertence à alma. Nem o coração à cabeça, nem a cabeça ao espírito, nem o
espírito ao fígado nem o fígado ao coração. Sou montado de tanta coisa, tralha
que sobrepõe e contradiz, que tanto sobra como falta. Da estupidez à arrogância
e a estupidez da arrogância, luz breve e acção fraca e incerta. Da fidelidade
canina e da estupidez de ser fiel como os cães. Locomotiva desabrida, chocolate
ao Sol do Verão. Contradigo, mas quero amor. Dou saltos para a periferia e desejo
ser anónimo na multidão. Ora frio, ora temperamental. Alegre, mas taciturno. Feliz?
Acredito que fui, provavelmente é memória inventada. Ou até isso não tive ou
até isso perdi. Esqueci-me de muita coisa, o que não pedi. Não se me foram outros
pensamentos que dispensava. Sem um amigo escureço. No escuro aguento todo o
desconcerto que sou.
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