digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, julho 05, 2014

Pulseira verde

Apetece-me coisa nenhuma. Um dia de tédio. Não de tristeza de lamber feridas e aiar. Nem música, nem Sol nem cama, nem televisão nem gatas e nem cão, nem solidão nem multidão, nem vinho nem combustão, nem viver nem morrer.
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Dia de eclipse, de viagem sideral mas sem procurar Deus, sem querer chegar ao fim do universo nem aterrar.
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O tédio é uma dor como a dos dentes, ora em lume brando ora carbonizando. Os ais aliviam, mas já disse que aiar hoje não resolve nem apetece.
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É Verão sem praia, Outono sem chuva, Inverno sem frio nem Primavera sem chatice. Só me falta o acne para espremer.
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Este tédio é bom para sala de espera num hospital central quando o mal é tão fraco que nos põem uma bracelete verde, para nos fazer compreender que estamos ali a mais.
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De que mal me irei queixar ao Hospital de São José? Que direi para justificar o meu empate no trabalho de quem está a tratar gente com problemas?
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Este tédio, este tédio... vou de táxi para não me preocupar com estacionamento. Podia ir a pé, caminhar faz bem e o ar limpa os pensamentos, mas e o tédio que dá só de pensar nisso?
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Sei! Na recepção vou queixar-me de tédio e vão pôr-me na sala de espera dos maluquinhos. É muito mais pequena e silenciosa. O tédio é treino para aguentar e talvez consiga passar o tempo aiando. Se tiver sorte terei bracelete verde.
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Será verde? No outro dia deram-me uma amarela por estar perigosamente agitado. Agora que estou perigosamente enfadado... espero que seja verde.
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Deve haver um comprimido mágico para o tédio.
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Enapá! Um suspiro. Fraquito. Vou sair já para apanhar o táxi para o Hospital de São José antes que o tédio se amenize.

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